Se estamos destinados a morrer, somos suficientes para o luto do nosso país. E se vivermos, quanto menos formos, maior a honra. Por amor de Deus, não desejo nem mais um homem! Aquele que não tiver estômago para esta luta pode partir. O seu passaporte será feito e moedas para a viagem colocadas no seu bolso. Nós não morreremos na companhia daquele que receie morrer connosco.
Hoje, é dia de São Crispim. E aquele que sobreviver a este dia e regressar a casa levantar-se-á sempre que este dia for chamado. Ele, que sobreviva a este dia e chegue à velhice, irá anualmente cear com os seus vizinhos e dizer-lhes: amanhã é dia de São Crispim. E arregaçando as mangas, mostrará as cicatrizes e dirá: estas são as minhas feridas de São Crispim.
Os homens velhos esquecem que tudo será esquecido, mas ele lembrar-se-á de tudo o que fez neste dia: os nossos nomes, familiares à sua boca como lemas de uma casa, relembrados por cada taça fresca e brindada.
Esta é a história que um homem bom ensinará ao seu filho.
O dia de São Crispim irá de hoje até ao fim do mundo, mas nós, nele, seremos lembrados. Nós poucos, nós felizmente poucos. Nós irmãos de armas. Porque aquele que derramar o seu sangue comigo será meu irmão, podendo ser tão cruel que este dia apaziguará a sua condição.
Os senhores em Inglaterra, agora a dormir, pensar-se-ão depois amaldiçoados por não estarem aqui. E tomarão a sua coragem como pouca cada vez que ouvirem alguém dizer-lhes: eu estive lá com eles, no dia de São Crispim.
William Shakespeare traduzido por Sebastião Bugalho
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