´Habitual visita a Nossa Senhora na Basílica de Santa Maria Maior foto @GregBurkeRome |
No final de Setembro (dias 22 a 25 de 2018), o Papa Francisco viaja aos países bálticos, para reforçar a fé daqueles povos duramente provados pela perseguição nazi, seguida de meio-século de perseguição soviética. Logo a seguir (3 a 28 de Outubro), arranca em Roma o sínodo dos bispos, sobre os jovens e a vocação, que inclui no programa (14 de Outubro) a canonização de Paulo VI e do Arcebispo Óscar Romero.
A primeira etapa da viagem aos países bálticos foi igual à de todas as viagens anteriores. Poucas horas antes de apanhar o avião, Francisco deslocou-se à basílica romana de Santa Maria Maior para confiar a Nossa Senhora estes dias apostólicos. A população aguarda-o com grande emoção, mas a vida religiosa e social daquelas nações ainda está pouco consolidada. Esta viagem coincide com os 100 anos da independência destes países, dos quais só uma pequena parte foi vivida em liberdade: «tempos obscuros, de violência e perseguição, em que a chama da liberdade não se extinguiu...» – disse-lhes o Papa numa mensagem-vídeo, pouco antes de partir.
O sínodo dos bispos vai tratar do projecto de Deus para cada ser humano e do momento em que cada um se encontra a sós com Deus e conhece esse sonho divino. Nalguns casos, o aturdimento é tão grande que o próprio não se apercebe de nada. Também há encontros felizes, em que a surpresa maiúscula do primeiro momento se prolonga até ao fim da vida com a alegria de ter sido olhado por Deus. É normal que o próprio se dê conta do erro que Deus comete ao chamá-lo para uma vocação que ultrapassa completamente a capacidade própria. Nessa altura, são possíveis duas atitudes. A mais inteligente é compreender que o facto de Deus ser omnipotente Lhe permite ultrapassar os impossíveis e que, de qualquer maneira, não temos de Lhe dar lições. A outra atitude é saber mais que Deus: «Muito obrigado, meu Deus; eu tenho uma ideia melhor, mas fico agradecido na mesma, por vos terdes lembrado de mim!».
Vocação de Mateus - Caravaggio |
Hoje, no dia em que escrevo, a Igreja celebra o Apóstolo S. Mateus, um homem que, antes de ser chamado por Jesus, tinha uma função mais desprezível que a de um funcionário da Emel. Não deveria ter sido escolhido para nada, no entanto, reagiu de forma verdadeiramente inteligente àquele erro de «casting»: aceitou e condecorou-se a si mesmo por essa decisão, dando um grande banquete a todos os seus amigos. O lema papal de Francisco («miserando atque eligendo») é uma alusão à vocação de S. Mateus, uma referência ao Deus que «perdoa e escolhe».
A vocação é sempre uma surpresa. Em primeiro lugar, porque implica um erro de «casting», ou (o que vem a dar ao mesmo) um «amor cego» por parte de Deus. Em segundo lugar, porque o caminho empreendido ultrapassa tudo o que a imaginação alcança e o final é uma fecundidade inesgotável e um prémio sem fim.
A canonização simultânea de Paulo VI e do Arcebispo Óscar Romero apresenta-nos dois modelos de grande fidelidade à Igreja, um particularmente conhecido pela defesa da família e da vida humana e o outro mais conhecido pelo respeito da justiça, sobretudo em relação aos mais vulneráveis. Francisco explicou que a canonização simultânea destes dois santos mostra que as várias dimensões da mensagem cristã são indissociáveis.
Nesta semana, o «New York Times» publicou duas cartas escritas por Bento XVI em 2017 a um Cardeal conhecido pelas críticas ao Papa Francisco. Embora fossem cartas privadas, tornaram-se do domínio público. Dá pena também que o destinatário não tenha compreendido a mensagem.
Também nesta semana se comemorou no Parlamento italiano o encontro, ocorrido há 50 anos naquele mesmo edifício, entre Chiara Lubich e o político Igino Giordani. O próprio Giordani escreveu num livro de memórias: «Estava convencido de que ia ouvir uma entusiasta sentimental de qualquer utopia de beneficência. Foi completamente diferente. (...) De repente, a minha curiosidade despertava-se e deflagrava um fogo galopante. Quando, ao cabo de meia hora, acabou de falar, eu vivia numa atmosfera encantada, num limbo de luz e de felicidade; e teria gostado que aquela voz continuasse. Era a voz que, sem eu me dar conta, esperava. Era a santidade ao alcance...». Este deslumbramento de Giordani foi o princípio de uma vocação que havia de marcar o movimento dos Focolares... Uma vocação é sempre um deslumbramento e uma surpresa.
José Maria C.S. André
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