Calcutá é a capital do Bengala
Ocidental, um Estado da Índia dominado durante 34 anos pelo Partido Comunista,
graças à liderança carismática de , chefe do Governo durante 23 anos.
Nestas funções, em que conviveu longamente com a Madre Teresa e as suas freiras,
o radicalismo de Jyoti Basu colapsou. Violento e duro com os adversários, rendeu-se
sem luta com a Madre Teresa. «She makes
me a bad Marxist since she makes me believe in godliness» (ela faz de mim um
mau marxista, porque me faz acreditar na piedade / na divindade). Para
quê culpar o grande líder comunista? Quem
não tem fraquezas?
Joykrishno Ghosh, secretário de
Jyoti Basu desde o início, lembra as instruções que tinha, para nunca fazer a
Madre Teresa esperar. Há relatos de que o Conselho de Ministros se interrompeu
porque a Madre acabava de chegar.
Ronda Chervin, biógrafo da
Madre Teresa, conta que ela também correspondia prontamente aos pedidos de
Basu: um dia, em que ele não sabia como lidar com 400 mulheres mantidas na
prisão com problemas físicos e mentais, a Madre Teresa tirou-as de lá
imediatamente e começou a construir um lar para elas, num terreno cedido pelo
Governo. Navin B. Chawla, outro biógrafo da Madre Teresa, refere que ela antepunha
sempre as palavras «o meu amigo», antes do nome de Basu. Quando a Madre foi
hospitalizada, Basu visitava-a todos os dias; quando Basu esteve doente, ela ia
lá todos os dias rezar.
Basu não escondia a sua amizade
pelas Irmãs Missionárias da Caridade. Quando a Madre Teresa morreu (1997), sendo
ele o Primeiro-ministro do Bengala Ocidental e cabeça do Partido Comunista
local, organizou um dos maiores funerais de Estado de que há memória. O
realizador Rajeevnath lembra que, quando um jornal noticiou que ele estava a
preparar um filme sobre a Madre Teresa, lhe telefonaram directamente do Governo
a dizer que todo o Estado de Bengala o apoiava, se fizesse o filme.
Prémio Nobel, Oslo 11 de dezembro de 1979 |
O jornalista Andrea Tornielli,
do «La Stampa», resume o depoimento do antigo enviado especial da ONU, Staffan
de Mistura, num «Meeting di Rimini», organizado pelo movimento Comunhão e
Libertação. No ano de 1986, os guerrilheiros cercavam a cidade sudanesa de
Juba, de maioria cristã, impedindo a chegada de mantimentos. A população
começava a morrer de fome. Os mísseis dos guerrilheiros já tinham abatido dois
aviões da ONU, que transportavam comida para Juba. Nisto, aparece na capital do
Sudão a Madre Teresa com a Irmã Mirtilla: «Estive ontem com o Papa João Paulo
II, que ouviu a BBC e quer salvar a cidade de Juba. Eu ia para o Quénia, mas
resolvi passar antes por aqui. Que
posso fazer? Explique-me o problema». Tentaram
explicar: «Isso é demasiado complicado, ligue-me para o Presidente do Sudão que
impede a partida do avião, ou para os guerrilheiros». O Presidente está neste
momento nos Estados Unidos. «Não faz mal, falamos com o Ronald. É um bom sujeito». Quem? «O Ronald Reagan e também a mulher dele. Ligue-me já para a Casa Branca».
– Boa tarde, fala do World Food
Programme, no Sudão, estou aqui com a Madre Teresa que quer falar...
– Pois pois, também telefonaram para cá o Napoleão e o
Júlio César... – responde o telefonista. Foi difícil convencê-lo e depois
percorrer um a um os degraus da hierarquia da Casa Branca até conseguir a
resposta: «o Presidente vai falar com a Madre Teresa». Reagan mexe-se e no dia
seguinte um avião das Nações Unidas, carregado de comida, aterra em Juba sem
ser bombardeado. Os guerrilheiros desistiram e levantaram o cerco.
José Maria C.S. André
Spe Deus
25-IX-2016
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