Esta semana, fez escala em Lisboa
um amigo que não via há muito tempo e tem a sorte especial de ser argentino
(com ascendentes portugueses) e de ser amigo de longa data do Papa Francisco,
já antes de ele ser Papa. Quando se reencontraram, depois da eleição,
comentou-lhe «Santo Padre, agora tenho de passar a tratá-lo por “usted”, por
respeito para com o Papa». «Não! Continuamos a tratar-nos por tu» – e assim
ficou.
A partir daqui, é fácil
compreender a quantidade de histórias que me contou no serão. Julgo que
qualquer católico que tivesse ouvido aquela conversa teria reforçado ainda mais
o sentido de proximidade que todos em relação ao Papa. Estamos muito unidos pela
fé, mas isso não tira o interesse por conhecer histórias concretas. Pelo
contrário! Tocou-me especialmente aqueles episódios que mostram a preocupação
de Francisco pela salvação de cada pessoa.
Por exemplo, um dia, Francisco
disse ao meu amigo que tinha recebido uma carta a contar que alguém não se
decidia a reconciliar-se com Deus a não ser que se pudesse confessar com o
Papa. O meu amigo foi encarregado de fazer o contacto e, realmente, o sujeito
em causa apanhou o avião com a família e apresentou-se no Vaticano para o Papa
o confessar.
Outra vez, uma senhora estava um
pouco aborrecida e o Papa telefonou-lhe directamente: «Sou Francisco,..».
A tal
senhora nunca mais teve mau humor. Muitos outros telefonemas têm esta marca da
preocupação evangelizadora do Papa, quebrando as barreiras para chegar
directamente a cada pessoa. Mais ainda com os sacerdotes. A um padre que estava
surpreendido por o Papa o receber (tinha pedido uma audiência, mas pensava que
fosse impossível), Francisco comentou: só não recebo um padre que pede para
falar comigo se me for completamente impossível.
Também ouvi histórias mais
antigas, dos tempos de Buenos Aires. O jovem Jorge Bergoglio teve de sofrer uma
intervenção cirúrgica em que lhe tiraram meio pulmão. Naquela situação muito
dolorosa, uma freira disse-lhe no hospital algo que lhe transformou a vida:
«Jorge, estas dores são a oportunidade de te unires ao sofrimento de Jesus
Cristo na sua Paixão!». Esta frase revelou-lhe o sentido de toda a sua vida, a
começar por aqueles momentos amargurados, que se encheram de valor. Os
problemas resultantes daquela intervenção cirúrgica perduram até hoje e também
o agradecimento àquela freira que, com uma frase tão curta, lhe marcou a vida
inteira.
Naquele serão, sucederam-se os
momentos sérios com episódios surpreendentes. Um dia em que estava com
Francisco, apareceu um padre finlandês. Francisco pediu muito aos dois que
rezassem por ele e os dois comprometeram-se a tomar a peito essa
responsabilidade, mas o finlandês atreveu-se a acrescentar que não estava
totalmente de acordo com o Papa. «De que é que discorda?» «O Santo Padre diz
que vem do fim do mundo, mas o fim do mundo não é a Argentina, é a Finlândia».
«É que há dois fins do mundo!», respondeu o Papa. A brincadeira passou ao
relato das conversões que se estão a dar naquelas terras frias e maravilhosas
do fim do mundo da Finlândia.
A devoção de Francisco a S. José,
confiando-lhe as dificuldades tão graves da Igreja dos nossos dias, a sua devoção
a Nossa Senhora, a cuja intercessão recorre antes de cada viagem (foi agora
rezar à basílica de Santa Maria Maior antes de partir para a Roménia, onde se
encontra agora)...
Que serão fantástico!
José Maria C.S. André
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