O Papa acaba de regressar a
casa (sexta-feira, 10 de Março 2017), depois de um retiro espiritual de vários dias,
acompanhado por colaboradores da Santa Sé. O retiro decorreu numa casa
religiosa em Arricia, uma pequena povoação 30 km a Sul do Vaticano. Durante
estes dias, não houve conversas, «dossiers» para tratar, nem audiências nem
homilias.
Num ambiente de silêncio e
oração pessoal, o Papa e a Cúria Romana acompanharam os últimos dias de Jesus,
seguindo, passo a passo o Evangelho de S. Mateus. O Pe. Giulio Michelini
pregava as meditações, de manhã e de tarde, para ajudar cada um a fazer a sua
própria oração silenciosa, a enfrentar-se «tu-a-tu» com Nosso Senhor. Deste
diálogo, surgem naturalmente propósitos de emenda, desejos de ser mais generosos,
maior realismo acerca das nossas fraquezas e da importância de confiar na ajuda
de Deus.
Muitos cristãos fazem
anualmente um retiro espiritual, especialmente nestes dias da Quaresma. Os
Papas anteriores também escolhiam esta altura do ano para fazer os seus
retiros.
O que se pode esperar de um
retiro? Não quero estragar a surpresa de quem nunca experimentou, mas deixo
algumas sugestões.
Em primeiro lugar, convém levar
um bloco de notas. Não para apontar frases eloquentes, mas para tomar nota do que
o Espírito Santo nos quiser dizer. Às vezes, através de um pensamento
inesperado, de uma pergunta interior: «Queres fazer isto?...». O bloco também é
útil para nos recordarmos das nossas próprias decisões. Se dissermos a Nosso
Senhor que vamos fazer uma coisa, convém não nos esquecermos disso na primeira
curva da vida.
Em segundo lugar, num retiro
ficamos a conhecer melhor Quem é Deus. Talvez seja essa a maior fonte de
surpresas. Também temos oportunidade de olhar para nós mesmos com mais objectividade,
sobretudo se trocarmos umas impressões com o pregador, mas essa parte é
secundária. Um retiro não é para ajustar contas com o passado, mas para dar um
salto de qualidade na relação com Deus. A conversa com o pregador é para falar
dessa jornada nova que queremos começar.
Um dos momentos-chave do retiro
é a Confissão. Quem nunca fez um retiro pode pensar que a Confissão seja o duro
momento de reconhecer as próprias culpas, mas a Confissão é principalmente o
encontro com a misericórdia de Deus. É difícil descrever, porque a misericórdia
divina é mais infinita que a extensão dos oceanos, mas é absolutamente real. Na
Confissão, muitas pessoas tiveram a experiência física da alegria de Deus, que
declarou que lhe dá «mais alegria um pecador que se confessa que 100 justos que
não precisam de fazer penitência». Por isso é que o Papa Paulo VI, na Exortação
apostólica «Gaudete in Domino» (alegrai-vos no Senhor), diz que a Confissão é o
Sacramento da paz e da alegria. Muitos documentos da Igreja também chamam à
Confissão «Sacramento da Alegria».
Num retiro, a adoração
eucarística e a Missa preparam-nos para a Confissão. E a Confissão permite-nos
Comungar.
O pregador do Papa Francisco dizia-lhe,
durante este retiro: «As palavras do Evangelho de S. Mateus ressaltam esta dimensão
da Ressurreição, o perdão. Jesus Ressuscitado quer encontrar os 11 discípulos e
chama-lhes ‘irmãos’, perdoa-lhes o terem-No abandonado (...). Este é
verdadeiramente o modo de actuar de Deus, a sua Palavra é capaz de iluminar os
nossos limites e transformá-los em oportunidade».
No final do retiro, o Papa agradeceu ao pregador:
«Todos nós somos pecadores, mas, ao mesmo tempo, temos a necessidade de seguir
Jesus de perto, sem perder a esperança na promessa e também sem perder o
sentido do humor. Obrigado, Padre!».
José Maria C.S. André
12-III-2017
Spe Deus
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