Estas reflexões são tradicionais na doutrina e na atuação cristã. Não
pressupõem nada de negativo, nem pretendem fomentar inquietações irracionais,
mas sim um santo temor filial, cheio de confiança em Deus. Encerram um realismo
sobrenatural e humano, com sinais claros de que a sabedoria cristã, a partir da
fé, dá tranquilidade e confiança à alma.
O nosso Padre ensinou-nos a tirar consequências práticas da meditação sobre
este momento e, em geral, sobre as últimas realidades. Não consideremos pois friamente estas coisas, pregava numa ocasião
para um grupo de filhos seus, ainda novos. Eu
não quero que nenhum de vós morra. Guarda-os, Senhor, não os leves ainda pois
são jovens, e aqui em baixo tens poucos instrumentos! Espero que o Senhor me
ouça... Mas a morte pode vir a qualquer momento [9]. E concluía: que consciência tão objetiva nos traz a consideração
da morte! Que bom remédio para dominar as rebeliões da vontade e a soberba da
inteligência! Ama-a, e diz ao Senhor, com confiança: como Tu quiseres, quando
Tu quiseres, onde Tu quiseres [10].
Naturalmente que a realidade da morte se torna mais dura quando se trata
das pessoas mais queridas: pais, filhos, esposos, irmãos... Mas com a graça de
Deus, à luz da Ressurreição do Senhor, que não
abandona nenhum daqueles que o Pai Lhe confiou, nós podemos privar a morte do
seu «aguilhão», como dizia o apóstolo Paulo (1 Cor 15, 55),
podemos impedir que ela envenene a nossa vida, que torne vãos os nossos afetos,
que nos leve a cair no vazio mais obscuro [11]. Nada mais certo do que isto:
o Senhor quer‑nos ao Seu lado para desfrutarmos da Sua santa visão e presença.
Fomentamos diariamente esta esperança? Rezamos com amor, como o nosso Padre, o vultum
tuum, Dómine, requíram [12],procuro, Senhor, o Teu
rosto?
Estes momentos, que são acompanhados pela dor, podem ser - se a fé tem
raízes profundas na família cristã, e de facto assim acontece muitas vezes -
ocasião para reforçar os laços que unem entre si os diversos membros. Nesta fé, podemos consolar-nos uns aos outros,
conscientes de que o Senhor venceu a morte de uma vez para sempre. Os nossos
entes queridos não desapareceram nas trevas do nada: a esperança assegura‑nos
que eles estão nas mãos bondosas e vigorosas de Deus. O amor é mais forte do
que a morte. Por isso, o caminho consiste em fazer aumentar o amor, em torná-lo
mais sólido, e o amor preservar-nos-á até ao dia em que todas as lágrimas serão
enxugadas, quando já não haverá morte, nem luto, nem pranto, nem dor (Ap 21,
4) [13].
Esta visão cristã oferece o
verdadeiro antídoto para o temor que nos costuma assaltar ao comprovarmos a
caducidade da existência terrena. Ao mesmo tempo, como já referi, nada mais
natural que a morte dos entes queridos nos doa, e que choremos a sua partida.
Também Jesus chorou pela morte de Lázaro, o amigo tão querido, antes de o
ressuscitar. Mas sem exagerarmos, porque para um cristão coerente, morrer é ir
para a festa. Assim se exprimia S. Josemaria, que comentava uma vez: quando nos disserem: ecce spónsus venit, exíte óbviam
ei (Mt 25, 6) - sai, porque vem o esposo, porque vem Ele
buscar-te - pediremos a intercessão de Nossa Senhora. Santa Maria, Mãe de Deus,
rogai por nós pecadores, agora... e verás, na hora da morte! Que sorriso terás
na hora da morte! Não haverá um gesto de medo, porque estarão os braços de
Maria para te acolher [14].
[8].S. Josemaria, Caminho, n. 739.
[9]. S. Josemaria, Notas de uma meditação, 13-XII-1948.
[10]. S. Josemaria, Notas de uma meditação, 13-XII-1948.
[11]. Papa Francisco, Audiência geral, 17-VI-2015.
[12]. Cfr. Sl 26 [27], 8.
[13]. Papa Francisco, Audiência geral, 17-VI-2015.
[14]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 23-VI-1974.
(D. Javier Echevarría na carta do mês de novembro de 2015)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
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