Começa o julgamento.
Agora vai ser julgada a Verdade, vai ser julgada a Justiça, vai ser julgado o amor!
A justiça torna-se injustiça, porque os homens de coração fechado, cegos pelo ódio, tolhidos pelo medo de perderem as suas prerrogativas, não conseguem ver a Verdade, não conseguem ver o Amor.
Pilatos pergunta-Lhe o que é a Verdade e não obtém resposta, porque a Verdade está diante dele e ele não a consegue ver, cego que está pelo seu poder.
Entregam-no aos seus algozes, como “cordeiro ao matadouro” no dizer cru de Isaías, e Ele nada diz, nem um queixume se ouve.
As bofetadas, as cuspidelas, as palavras ofensivas que Lhe são dirigidas não Lhe interessam, não O ofendem sequer.
Aquilo que O ofende e faz sofrer, são os nossos pecados, as nossas fraquezas, que Ele sabe continuarão, apesar do Seu sacrifício.
Colocam-Lhe a cruz aos ombros.
A cruz da ignominia, a cruz dos condenados, é colocada aos ombros do Perdão, aos ombros daquEle que não condena, mas usa de toda a misericórdia para com todos.
Cada passo, cada queda, cada olhar de escárnio que Lhe dirigem, suscita sempre n’Ele a mesma oração, agora intima, interior, mas que mais tarde, na hora derradeira, se vai tornar audível: «Perdoa-lhes Pai, que não sabem o que fazem.»
Deitam-nO sobre a cruz.
Apontam os cravos, pegam nos maços e com fortes batidas rasgam a Sua carne, perfuram as Suas mãos e os Seus pés.
Cada som cavo de cada martelada, lembra-nos o meu pecado, o nosso pecado!
Que fácil é atirar as culpas para cima daqueles que o faziam, como se não fossemos nós todos que O crucificamos!
Levantam-nO ao céu.
A cruz enterrada na terra, aponta agora o Céu.
É uma escada que devemos subir, fortemente agarrados, entregues a ela, porque só nela encontramos a salvação.
De cima da cruz, Ele olha para os seus algozes, Ele olha para nós, com o mesmo olhar com que olhou para Pedro a seguir a este O ter negado.
É o único olhar que Ele tem, o olhar da compaixão, o olhar da misericórdia, o olhar do perdão.
«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.»
Nesta entrega ao Pai, entrega-nos também a nós, entrega o Seu espírito, para que esse mesmo Espírito seja derramado sobre todos nós, sobre mim, e assim possamos abrir os olhos e reconhecer a Verdade, a Justiça e o Amor.
Faz-se um silêncio avassalador!
Não o silêncio da morte, mas o silêncio da espera, o silêncio que se vai tornar alegria na hora da Ressurreição!
Ah, Senhor, prostrado, joelhos em terra, olhos baixos de vergonha, com lágrimas de contrição, apenas Te digo: Perdoa-me, Senhor, que não sei o que fiz, que não sei o que faço, quando Te crucifico com o meu pecado.
E Tu, Senhor, nesse Teu infindável amor, com esse Teu olhar de misericórdia, com o coração repleto de perdão, apenas me dizes: Levanta-te e anda. Vigia e ora para que não entres em tentação. Não temas que Eu estou sempre contigo.
Sexta Feira Santa 2018
Joaquim Mexia Alves
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