Contra as heresias, III, 11, 8-9
Não pode haver mais nem menos evangelhos. Com efeito, uma vez que são quatro as regiões do mundo no qual nos encontramos, e quatro os ventos principais, e uma vez que, por outro lado, a Igreja está espalhada por toda a terra e tem por «coluna e sustentáculo» (1Tim 3,15) o Evangelho e o Espírito da vida, é natural que haja quatro colunas que sopram a imortalidade de todos os lados e dão vida aos homens. Quando o Verbo, o artesão do universo, que tem o trono sobre os querubins e que sustenta todas as coisas (Sl 79,2; Heb 1,3), Se manifestou aos homens, deu-nos um evangelho com quatro formas, embora mantido por um único Espírito. Implorando a sua vinda, David dizia: «Manifestai-Vos, Vós que tendes o vosso trono sobre os querubins» (Sl, 79,2). Porque os querubins têm quatro figuras (Ez 1,6), que são as imagens da atividade do Filho de Deus.
«O primeiro [destes seres vivos] era semelhante a um leão» (Ap 4,7), e caracteriza o poder, a preeminência e a realeza do Filho de Deus; «o segundo, a um touro», manifestando a sua função de sacrificador e de sacerdote; «o terceiro tinha um rosto como que de homem», evocando claramente a sua face humana; «o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo», indicando o dom do Espírito que paira sobre a Igreja. Os evangelhos segundo João, Lucas, Mateus e Marcos estão, pois, de acordo com estes seres vivos sobre os quais Cristo Jesus tem o seu trono. […]
Encontramos estes mesmos traços no próprio Verbo de Deus; aos patriarcas que existiram antes de Moisés, falava Ele segundo a sua divindade e a sua glória; aos homens que viveram sob a Lei, atribuiu uma função sacerdotal e ministerial; em seguida, fez-Se homem por nós; por fim, enviou o dom do Espírito a toda a terra, escondendo-os à sombra das suas asas (Sl 16,8). […] São, pois, fúteis, ignorantes e presunçosos os que rejeitam a forma como se apresenta o evangelho, ou nele introduzem um número de figuras maior ou menor do que as que referimos.
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