Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 13 de agosto de 2017

A memória do amor


Com a solenidade dos pergaminhos latinos, o Papa Francisco publicou «junto a S. Pedro, no dia 11 de Junho de 2017, ano quinto do nosso pontificado», uma Carta apostólica sobre a memória daquelas pessoas que entregaram a sua vida por amor e perseveraram até à morte. Os documentos deste tipo são conhecidos pelas palavras iniciais, que neste caso são «maiorem hac dilectionem»: aquela frase em que Jesus diz que não há maior amor do que dar a vida pelos seus amigos (Jo 15, 13). Como é que começou a veneração aos santos?

Não se conhecem todos os pormenores. Conservar a memória dos mártires foi algo instintivo na Igreja. Os arquivos da burocracia romana ajudavam a compilar as actas dos martírios, mas o mais valioso era sempre espreitar o coração daqueles homens, daquelas mulheres, daquelas crianças. Os nomes dos juízes ou dos carrascos aparecem só de passagem, sem mais relevo que o local e as circunstâncias, porque as actas não perpetuavam a memória dos crimes, guardavam a memória do amor, mais forte que a morte, como diz o Cânticos dos Cânticos. A Igreja entende-se como uma família presente na Terra e no Céu, de modo que, para ela, os mártires continuam unidos aos vivos. Não em sentimento, na realidade. E, quem diz os mártires, diz os santos, porque a morte violenta nunca foi o elemento importante.

Há quem discorde deste culto; o facto é que tem sido assim há séculos e continua. Deus deu-nos a companhia dos santos, deveríamos prescindir deles?
Será que Deus esquece os que O amaram, quando eles morrem? A Igreja deveria deixar de imitar Deus, que guarda amorosamente a memória dos seus amigos através dos séculos?

Pormenor de uma das fachadas da catedral anglicana
de Westminster, em Londres. A estátua central deste
 friso representa o Arcebispo católico Óscar Romero.
Uma das figuras que a Igreja conserva no seu coração é o Bem-aventurado Óscar Romero, Arcebispo de San Salvador, mártir em 1980, beatificado em 2015. Nesta terça-feira, 15 de Agosto, Assunção de Nossa Senhora, coincidindo com os 100 anos do seu nascimento, conclui-se um ano de jubileu destinado a conseguir a reconciliação e a paz para El Salvador.

Na época em que Óscar Romero foi bispo, El Salvador sofria uma guerra civil sangrenta. De um lado, os Esquadrões da Morte, armados pelos militares e pelos Estados Unidos; do outro, a Frente Farabundo Martí, armada pela União Soviética através de Cuba. Uns e outros, mataram a eito. Perdeu-se o respeito pela vida, matavam porque sim, por hábito, por preconceito, por ódio. A morte do Arcebispo atingiu um sadismo requintado: um automóvel do Esquadrão da Morte parou em frente da porta aberta da capela do hospital, durante a Eucaristia, a seguir à Consagração, e um atirador disparou uma bala explosiva, com o gozo de ver o sangue do Arcebispo pingar sobre as hóstias brancas e a toalha do altar. A Igreja perdoou e reza pelo desgraçado assassino, mas, sobretudo, guarda no seu coração a memória de Óscar Romero, cristão vibrante, cheio de zelo pelas almas.

Felizmente, aquela guerra civil acabou, mas continua a morrer gente às mãos das marras (as organizações de tráfico de droga) e persistem injustiças gritantes, que afectam um grande número de pobres. O presente jubileu tem sido uma intensa oração ao Céu, para que Deus cuide o seu povo que sofre e lhe dê finalmente a justiça e a paz. O Papa encarregou o enviado especial às celebrações do dia 15 de lembrar aos salvadorenhos este «bispo e mártir, ilustre pastor e testemunha do Evangelho e defensor da Igreja e da dignidade dos homens, porta-voz do amor de Cristo entre todos, especialmente entre os pobres, os marginalizados e descartados», «que difundiu, a justiça, a reconciliação e a paz».

S. Maximiliano Kolbe
Antigamente, falava-se dos mártires da fé, por serem fiéis à verdade; nos últimos séculos, o motivo nem sempre foi a fé. Por exemplo, o Papa João Paulo II dizia de S. Maximiliano Kolbe que não tinha sido mártir da fé mas mártir da caridade. O mesmo aconteceu com o Beato Óscar Romero e com tantos outros, mortos por seguirem Deus, a Igreja e amarem o povo. É por essa razão que o Papa Francisco institucionalizou esta forma nova de martírio, que é entregar a vida por amor (Carta apostólica «maiorem hac dilectionem»).

Carta de D. Álvaro del Portillo
ao Arcebispo Óscar romero
O Papa Francisco referiu que parte do martírio do Arcebispo Óscar Romero foi a calúnia que se abateu sobre ele, chamando-lhe comunista. Nunca o foi. Desde o princípio dos anos 60, o seu guia espiritual era do Opus Dei – ele próprio o divulgava, para incentivar os padres da diocese a seguirem o seu exemplo, a formarem-se e a crescerem na vida espiritual. Imediatamente antes da Eucaristia em que o assassinaram, tinha estado num retiro sacerdotal organizado pelo Opus Dei. As calúnias não tinham o mínimo fundamento. Quando a prepotência cega, alguns não distinguem um guerrilheiro comunista de um sacerdote santo, de doutrina segura, que cuidava com esmero a liturgia.

José Maria C.S. André
13-VIII-2017
Spe Deus

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