Sem dúvida, já não se apresenta apenas com a sua veste de renúncia resignada ante a imensidão da verdade, mas também como uma posição definida positivamente pelos conceitos de tolerância, conhecimento dialógico e liberdade, conceitos que ficariam limitados se se afirmasse a existência de uma verdade válida para todos.
Por sua vez, apresenta-se como fundamento filosófico da democracia. Esta se edificaria sobre a base de que ninguém pode ter a pretensão de conhecer a verdadeira via, e se alimentaria do facto de que todos os caminhos se reconhecem mutuamente como fragmentos do esforço por atingir o que é melhor. Por isso, esses caminhos teriam de buscar no diálogo algum elemento comum e competir entre si quanto às afirmações que não podem integrar-se numa crença comum a todos. Um sistema de liberdades – dizem-nos - deveria, em essência, ser um sistema de posições que se relacionassem entre si como relativas, e além disso dependentes de situações históricas abertas a novos desenvolvimentos. Uma sociedade liberal seria, assim, uma sociedade relativista; só com essa condição poderia permanecer livre e aberta ao futuro.
(Cardeal Joseph Ratzinger in Conferência durante o encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, Guadalajara (México), nov. 1996)
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