O Santo Padre proferiu uma homilia de improviso aproveitando as intervenções do Cardeal Arcebispo de Havana Jaime Ortega Alamino e do testemunho da irmã Yaileny Ponce Torres debruçando-se sobre a pobreza recordando aquele jovem que já fazia tudo o que Jesus lhe recomendou, mas que não foi capaz de abdicar de todos os seus bens e segui-Lo.
Agradeceu a todas as consagradas que dedicam a cuidar daqueles que a sociedade rejeita por suas deficiências físicas ou mentais.
Aos sacerdotes recordou que no confessionário estão a exercer a misericórdia de Deus e que não se cansem de perdoar, sejam "perdoadores". Citou ainda Santo Ambrósio "Aonde há misericórdia aí está o espírito de Jesus, aonde há rigidez estão apenas os seus ministros". Terminou dizendo, "pobreza e misericórdia porque aí está Jesus".
(resumo da responsabilidade do blogue 'Spe Deus')
Texto integral da homilia preparada mas não proferida:
Reunimo-nos nesta histórica Catedral de Havana para cantar, com os Salmos, a fidelidade de Deus para com o seu povo, dar graças pela sua presença, pela sua infinita misericórdia. Fidelidade e misericórdia, de que se faz memória não só nas paredes desta casa, mas também nalguns aqui presentes com «cabelos brancos», uma memória viva e atualizada de que «a misericórdia do Senhor é infinita e a sua fidelidade dura para sempre». Irmãos, juntos, demos graças!
Demos graças pela presença do Espírito com a riqueza dos seus diferentes carismas no rosto de tantos missionários que vieram para estas terras, tornando-se cubanos entre os cubanos, sinal de que é eterna a misericórdia do Senhor.
O Evangelho apresenta-nos Jesus em diálogo com seu Pai, coloca-nos no centro da intimidade entre o Pai e o Filho feita oração. Quando se aproximava a sua hora, Jesus rezou ao Pai pelos seus discípulos, pelos que estavam com Ele e pelos que haviam de vir (cf. Jo 17, 20). Faz-nos bem pensar que, naquela hora crucial, Jesus coloca na sua oração a vida dos seus, a nossa vida. E pede a seu Pai que os mantenha na unidade e na alegria. Jesus conhecia bem o coração dos seus, conhece bem o nosso coração. Por isso, reza, pede ao Pai que não prevaleça neles uma consciência que tenda a isolar-se, a refugiar-se nas próprias certezas, seguranças, nos próprios espaços; que tenda a desinteressar-se da vida dos outros, instalando-se em pequenos «grémios domésticos» que quebram o rosto multiforme da Igreja. São situações que desembocam numa tristeza individualista; tristeza que pouco a pouco vai dando lugar ao ressentimento, à lamentação contínua, à monotonia. «Este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2) a que vos chamou, a que nos chamou. Por isso, Jesus reza, pede que a tristeza e o isolamento não prevaleçam no nosso coração. E nós queremos fazer o mesmo, queremos unir-nos à oração de Jesus, às suas palavras, dizendo juntos: «Pai santo, (…) guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos (…), e tenham em si a plenitude da minha alegria» (Jo 17, 11.13).
Jesus reza e convida-nos a rezar, porque sabe que há coisas que só podemos alcançar como dom, coisas que só podemos viver como um presente. A unidade é uma graça que só o Espírito Santo nos pode dar; a nós, compete-nos pedi-la e dar o melhor de nós mesmos para sermos transformados por este dom.
É frequente confundir unidade com uniformidade, com fazer, sentir e dizer todos o mesmo. Isto não é unidade, mas homogeneidade. Isto é matar a vida do Espírito, matar os carismas que Ele distribuiu para utilidade do seu povo. A unidade fica ameaçada sempre que queremos fazer os outros à nossa imagem e semelhança. Por isso, a unidade é um dom; não é algo que se possa impor à força ou por decreto. Alegra-me ver-vos aqui, homens e mulheres de diferentes gerações, contextos, experiências de vida, unidos pela oração em comum. Peçamos a Deus que faça crescer em nós o desejo de proximidade; que possamos sentir-nos próximos, ser vizinhos, com as nossas diferenças, propensões, estilos, mas vizinhos; com as nossas discussões, os nossos «litígios», falando cara a cara e não pelas costas. Peçamos a Deus que sejamos pastores próximos do nosso povo, que nos deixemos questionar, interrogar pela nossa gente. Os conflitos, as discussões na Igreja são previsíveis e, ouso dizer, necessárias; sinal de que a Igreja está viva e o Espírito continua a agir, continua torná-la dinâmica. Ai das comunidades onde não há um sim ou um não! São como os esposos que já não discutem, porque perderam o interesse um pelo outro, perdeu-se o amor.
Em segundo lugar, o Senhor reza para que gozemos «da plenitude da alegria» que Ele tem (cf. Jo 17, 13). A alegria dos cristãos, especialmente dos consagrados, é um sinal muito claro da presença de Cristo nas suas vidas. Quando há rostos tristes, isso é um sinal de alerta, alguma coisa não está bem. E Jesus pede isto ao Pai precisamente antes de sair para o horto das oliveiras, ocasião em que tem de renovar o seu «fiat». Não tenho dúvida de que todos vós tendes de carregar o peso de não poucos sacrifícios; e, para alguns, há décadas que os sacrifícios têm sido duros. Jesus reza, também Ele a partir do seu sacrifício, para que não percamos a alegria de saber que Ele vence o mundo. É esta certeza que nos impele, dia após dia, a reafirmar a nossa fé. Ele – com a sua oração, no rosto do nosso povo – «permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 3).
Como é importante, como é influente sobre a vida do povo cubano o testemunho de irradiar, sempre e em toda a parte, esta alegria, não obstante os cansaços, as dúvidas e até o desespero, que é uma tentação muito perigosa que atrofia a alma!
Irmãos, Jesus reza para que sejamos um e a sua alegria permaneça em nós. Façamos o mesmo: unamo-nos uns aos outros em oração.
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