São João Paulo II (1920-2005), papa
Encíclica «Dives in misericordia», § 14
Encíclica «Dives in misericordia», § 14
Cristo sublinha com insistência a necessidade de perdoar aos outros. Quando Pedro Lhe perguntou quantas vezes devia perdoar ao próximo, indicou-lhe o número simbólico de «setenta vezes sete», querendo desta forma indicar-lhe que deveria saber perdoar sempre a todos e a cada um.
É evidente que generosa exigência de em perdoar não anula as exigências objectivas da justiça. A justiça bem entendida constitui, por assim dizer, a finalidade do perdão. Em nenhuma passagem do Evangelho o perdão, ou mesmo a misericórdia como sua fonte, significam indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou os ultrajes. Em todos estes casos, a reparação do mal ou do escândalo, a compensação do prejuízo causado e a satisfação da ofensa são condição do perdão. [...]
A misericórdia tem, no entanto, condão de conferir à justiça um conteúdo novo, que se exprime do modo mais simples e pleno no perdão. O perdão manifesta que, além do processo [...] característico da justiça, é necessário o amor para que o homem se afirme como tal. O cumprimento das condições da justiça é indispensável, sobretudo, para que o amor possa revelar a sua própria fisionomia. [...] Com razão considera a Igreja seu dever e objectivo da sua missão assegurar a autenticidade do perdão.
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