São João Paulo II
Discurso na sinagoga de Roma, 13/4/1986
A minha visita hoje [a esta sinagoga] pretende constituir um contributo decisivo à consolidação dos laços que unem as nossas comunidades. [...] Dentre as múltiplas riquezas da Declaração Nostra ætate, do II Concílio do Vaticano, [...] a primeira é a de que a Igreja de Cristo descobre os seus laços com o judaísmo sondando o seu próprio mistério (Nostra ætate, 4). A religião judaica não nos é extrínseca, mas, de certo modo, intrínseca. Temos com ela um relacionamento que não temos com mais nenhuma outra religião. Sois os nossos irmãos preferidos e até, podemos dizê-lo, os nossos irmãos mais velhos. [...]
O caminho que começámos a trilhar está ainda no início; será preciso ainda muito tempo [...] para que todas as formas de preconceito, mesmo que inconsciente, sejam suprimidas e, assim, [...] possamos mostrar o verdadeiro rosto do judaísmo, bem como o do cristianismo. [...] Desde o princípio que não é segredo para ninguém que a nossa divergência fundamental é a nossa adesão, como cristãos, à pessoa e ao ensino de Jesus de Nazaré, filho do vosso povo, do qual saiu igualmente a Virgem Maria, os Apóstolos, alicerces e colunas da Igreja (cf. Gl 2,9), e a maioria dos membros das primeiras comunidades cristãs. [...] Outro tanto se diga das vias abertas à nossa colaboração que, à luz da herança comum saída da Lei e dos Profetas, são diversas e importantes [...]: acima de tudo a colaboração em favor do homem [...], da sua dignidade, da sua liberdade, dos seus direitos, numa sociedade [...] onde reine a justiça e [...] prevaleça a paz, essa shalom desejada pelos legisladores, pelos profetas e pelos sábios de Israel. [...]
Que desta visita, da concórdia e da serenidade que já conseguimos, nasça uma fonte fresca e benfazeja que nos ajude a sarar as feridas desta nossa cidade de Roma, como o rio que Ezequiel viu sair da porta leste do Templo de Jerusalém (Ez 47,1ss) Assim, conservar-nos-emos, de parte a parte, fiéis aos nossos compromissos mais sagrados, mas também a tudo o que nos une e aproxima mais profundamente: a fé em um só Deus que ama o estrangeiro e faz justiça ao órfão e à viúva, ensinando-nos a amá-los e a socorrê-los (Dt 10,18; Lv 19,18.34). Foi precisamente do Senhor da Torah, aqui venerado, que os cristãos aprenderam essa vontade, a de Jesus, que levou às últimas consequências o amor por ela exigido.
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