Bento XVI, papa de 2005 a 2013
Discurso de 19/08/2005 na sinagoga de Colónia, Alemanha
No corrente ano comemora-se também o 40º aniversário da promulgação da Declaração «Nostra aetate», do Concílio Ecuménico Vaticano II, que abriu novas perspectivas nas relações judaico-cristãs, sob o signo do diálogo e da solidariedade. No número 4 desta Declaração recordam-se as nossas raízes comuns e o preciosíssimo património espiritual compartilhado por judeus e cristãos. Tanto os judeus como os cristãos reconhecem em Abraão o seu Pai na fé (cf Ga 3,7; Rm 4,11ss), e têm como ponto de referência os ensinamentos de Moisés e dos profetas. Tanto a espiritualidade dos judeus como a dos cristãos recebem o alimento dos Salmos. Juntamente com o Apóstolo Paulo, os cristãos estão convencidos de que «os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (Rm 11,29; cf 9,6.11; 11,1ss). Em consideração da raiz judaica do cristianismo [...], o meu venerado Predecessor [...] asseverou: «Quem se encontra com Jesus Cristo, descobre o judaísmo.» [...]
Deus criou-nos a todos «à Sua imagem» (Gn 1,27) [...]. Diante de Deus, todos os homens têm a mesma dignidade, independentemente do povo, da cultura ou da religião a que pertencem. Por este motivo, a Declaração «Nostra aetate» fala com grande estima também dos muçulmanos e dos fiéis pertencentes às outras religiões. Tendo como base a dignidade humana comum de todos, a Igreja Católica «reprova como contrária ao espírito de Cristo qualquer discriminação entre os homens, ou qualquer perseguição feita por questões de raça ou de cor, de condição social ou de religião» (n. 5). A Igreja está consciente do seu dever de transmitir, tanto mediante a catequese destinada aos jovens como em todos os aspectos da sua vida, esta doutrina às novas gerações [...]. Trata-se de uma tarefa de especial importância, dado que nos dias de hoje, infelizmente, voltam a surgir sinais de anti-semitismo e manifestações de várias formas de hostilidade generalizada em relação aos estrangeiros. Como deixar de ver nisto um motivo de preocupação e de vigilância? A Igreja Católica compromete-se – reitero-o nesta circunstância – em prol da tolerância, do respeito, da amizade e da paz entre todos os povos, culturas e religiões.
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