«Tu amas-Me? (…) Apascenta os meus cordeiros» (Jo 21, 15.16).
As palavras de Jesus a Pedro, no Evangelho de hoje, são as primeiras palavras que vos dirijo, amados irmãos bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, e jovens seminaristas. Estas palavras recordam-nos algo de essencial. Todo o ministério pastoral nasce do amor. Toda a vida consagrada é um sinal do amor reconciliador de Cristo. Na variedade das nossas vocações, cada um de nós é chamado de alguma forma, como Santa Teresa do Menino Jesus, a ser o amor no coração da Igreja.
Com grande afecto vos saúdo e peço para levardes o meu afecto a todos os vossos irmãos e irmãs idosos e doentes e a todos aqueles que hoje não puderam juntar-se a nós. Com a Igreja nas Filipinas que olha para o quinto centenário da sua evangelização, sentimos gratidão pela herança deixada por tantos bispos, sacerdotes e religiosos das gerações passadas. Eles esforçaram-se não só por pregar o Evangelho e construir a Igreja nesta nação, mas também por forjar uma sociedade inspirada pela mensagem evangélica da caridade, do perdão e da solidariedade ao serviço do bem comum. Hoje vós continuais a mesma obra de amor. Como eles, sois chamados a construir pontes, apascentar o rebanho de Cristo e preparar vigorosos caminhos para o Evangelho na Ásia ao alvorecer duma nova era.
«O amor de Cristo nos absorve completamente» (2 Cor 5, 14). Na primeira leitura de hoje, São Paulo diz-nos que o amor que somos chamados a anunciar é um amor reconciliador, que jorra do coração do Salvador crucificado. Somos chamados a ser «embaixadores em nome de Cristo» (cf. 2 Cor 5, 20). O nosso é um ministério de reconciliação. Proclamamos a Boa-Nova do amor, da misericórdia e da compaixão infinitos de Deus. Proclamamos a alegria do Evangelho. Uma vez que o Evangelho é a promessa da graça de Deus, a única que pode trazer plenitude e cura ao nosso mundo arruinado, ele pode inspirar a construção duma ordem social verdadeiramente justa e redimida.
Ser embaixador de Cristo significa, antes de mais nada, convidar cada pessoa a um renovado encontro com o Senhor Jesus (cf. Evangelii gaudium, 3). Este convite deve estar no centro da vossa comemoração da evangelização das Filipinas. Mas o Evangelho é também uma exortação à conversão, a um exame da nossa consciência, como indivíduos e como povo. Como justamente ensinaram os vossos bispos, a Igreja nas Filipinas é chamada a individuar e combater as causas da desigualdade e injustiça profundamente enraizadas, que desfeiam o rosto da sociedade filipina, contradizendo claramente o ensinamento de Cristo. O Evangelho chama os indivíduos cristãos a conduzirem vidas honestas, íntegras e solícitas pelo bem comum. Mas chama também as comunidades cristãs a criarem «círculos de integridade», redes de solidariedade que possam impelir a abraçar e transformar a sociedade com o seu testemunho profético.
Como embaixadores de Cristo, nós, bispos, sacerdotes e religiosos, devemos ser os primeiros a receber a sua graça reconciliadora nos nossos corações. São Paulo deixa claro o que isto significa; significa rejeitar perspectivas mundanas, olhando tudo de novo à luz de Cristo. Isto comporta que sejamos os primeiros a examinar a nossa consciência, reconhecer os nossos falimentos e quedas e embocar o caminho duma contínua conversão. Como poderemos proclamar aos outros a novidade e o poder libertador da Cruz, se nós mesmos não permitirmos que a Palavra de Deus abale o comprazimento em nós próprios, o nosso medo de mudar, os nossos comprometimentos mesquinhos com as modalidades deste mundo, o nosso «mundanismo espiritual» (cf. Evangelii gaudium, 93)?
Para nós, sacerdotes e pessoas consagradas, a conversão à novidade do Evangelho implica um encontro diário com o Senhor na oração. Os Santos ensinam-nos que isto é a fonte de todo o zelo apostólico. Para os religiosos, viver a novidade do Evangelho significa encontrar incessantemente na vida da comunidade e nos apostolados da comunidade o incentivo para uma união cada vez mais estreita com o Senhor na caridade perfeita. Para todos nós, isto significa viver de tal forma que espelhemos a pobreza de Cristo, cuja vida estava inteiramente focalizada em fazer a vontade do Pai e servir os outros. Naturalmente, a grande ameaça a isto mesmo é cair num certo materialismo que pode insinuar-se dentro das nossas vidas e comprometer o testemunho que prestamos. Somente o tornar-nos pobres, expulsando o nosso autocomprazimento, permitirá identificar-nos com os últimos dos nossos irmãos e irmãs. Veremos as coisas sob uma nova luz e, deste modo, poderemos responder, com honestidade e integridade, ao desafio de anunciar a radicalidade do Evangelho numa sociedade acostumada à exclusão, à polarização e a uma desigualdade escandalosa.
Aqui desejo dirigir uma palavra especial aos jovens sacerdotes, religiosos, e seminaristas presentes. Peço-vos que partilheis a alegria e o entusiasmo do vosso amor por Cristo e pela Igreja com todos, mas sobretudo com os da vossa idade. Mantende-vos presentes no meio dos jovens que possam sentir-se confusos e desanimados, e todavia continuam a ver a Igreja como sua amiga no caminho e uma fonte de esperança.
Sede solidários com aqueles que, vivendo no meio duma sociedade perturbada pela pobreza e a corrupção, sentem-se com o espírito abatido, tentados a largar tudo, deixar a escola e viver pela estrada. Proclamai a beleza e a verdade do matrimónio cristão a uma sociedade que é tentada por apresentações confusas da sexualidade, do matrimónio e da família. Como sabeis, estas realidades estão cada vez mais sob ataque de forças poderosas que ameaçam desfigurar o plano criador de Deus e trair os verdadeiros valores que inspiraram e moldaram quanto de belo existe na vossa cultura. Na realidade, a cultura filipina foi plasmada pela criatividade da fé. Por todo o lado, os filipinos são conhecidos pelo seu amor a Deus, pela sua piedade fervorosa e a sua ardente e cordial devoção a Nossa Senhora e ao seu terço. Este grande legado contém um forte potencial missionário. É o modo como o vosso povo inculturou o Evangelho e continua a acolher a sua mensagem (cf. Evangelii gaudium, 122). No vosso esforço de preparação para o quinto centenário, construí sobre estas bases sólidas.
Cristo morreu por todos a fim de que, mortos n’Ele, não vivamos mais para nós mesmos, mas para Ele (cf. 2 Cor 5, 15). Amados irmãos bispos, sacerdotes e religiosos, rogo a Maria, Mãe da Igreja, que faça jorrar de todos vós uma tal abundância de zelo, que possais gastar-vos abnegadamente ao serviço dos nossos irmãos e irmãs. Possa, assim, o amor reconciliador de Cristo penetrar ainda mais profundamente no tecido da sociedade filipina e, por vosso intermédio, nos ângulos mais distantes do mundo.
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