Apesar do temor e tremor que esta confusão toda faz surgir em minha alma, penso que seja bom tudo isto. Explico...
1. Um Sínodo tem sempre uma natureza consultiva, ou seja, não tem um poder de decisão sobre os assuntos e questões tratados. Serve "para favorecer uma estreita união entre o Romano Pontífice e os bispos, e auxiliar com seu conselho o Romano Pontífice" (Gianfranco Guirlanda). É sempre representativo do episcopado, um sinal do chamado "afeto colegial".
2. As finalidades principais de um Sínodo, segundo o cânon 342 do Código de Direito Canónico, são duas:
a. Favorecer uma estreita união entre o Romano Pontífice e os bispos, através de uma solicitude dos mesmos para com o Ministério do Papa, na fé, na caridade e na solicitude pastoral.
b. Auxiliar com o seu CONSELHO (!!!) o Romano Pontífice no exercício do Ministério Petrino, na preservação da fé e dos costumes, na observância e consolidação da disciplina eclesiástica, e ainda para estudar questões que se referem à ação da Igreja no mundo.
Portanto, o Sínodo não tem nenhum poder de decidir absolutamente nada... Não tem o poder de modificar a doutrina da Igreja, sua disciplina, seus costumes, sua ação pastoral. É um órgão consultivo. Importante, porque leva ao Santo Padre visões, pensamentos, opiniões, discussões, etc... Mas não tem nenhum poder decisório em relação à fé, à moral, aos costumes, etc.
3. A meu ver, o Santo Padre está agindo com sabedoria neste Sínodo. Há anos que todos nós, católicos, estamos escutando estas questões, estas intermináveis discussões, sobre a comunhão dos divorciados, sobre se se deve ou não abençoar as segundas uniões, sobre o "casamento" entre homossexuais, etc. Em muitos lugares, por iniciativa própria, há quem já tenha decidido dar a comunhão a casais nestas condições, há quem já abençoou estas uniões, etc., criando uma enorme confusão na Igreja e no mundo. A meu ver, o Santo Padre age com sabedoria, deixando que se fale sobre estas questões, que se apresente estas situações, a profunda divisão que já existe no seio da Igreja em relação a isto. Não é o Sínodo quem está criando a confusão: ela já existe, e em muitas realidades, vive-se no espírito do "salve-se quem puder", cada um decidindo, por conta própria o que fazer, sem dar a mínima para o que a Igreja tradicionalmente ensina... É mentira isto?
4. O facto de que se exponham estas realidades, estas posturas e suas fundamentações, ainda que esdrúxulas, com liberdade, a meu ver não é um mal. É bom isto, no sentido de que cada um possa dizer o que pensa, com sinceridade. Não consigo ver isto como um mal. Que falem, que exponham sua visão. Até agora, por medo e por falta de sinceridade mesmo (covardia...), estes assuntos eram tratados em surdina, em baixa voz. Pior ainda, alguns mudavam a disciplina da Igreja por conta própria, e pronto: problema resolvido! A atitude do Santo Padre, de incentivar que se fale é altamente positiva. Porque não posso imaginar, e tenho rezado muito por isso, que na hora de assinar uma Exortação pós Sinodal, o Santo Padre coloque sua assinatura em algo que seja contrário à fé, à disciplina, à moral e aos costumes da Igreja.
5. Penso que, no final de toda esta discussão, de todas estas polémicas, depois que cada um disse o que bem entender, e que o Santo Padre, na Exortação pós Sinodal, recolhendo aquilo que poderá ser aceitável no sentido da misericórdia, do acolhimento, colocar a sua assinatura final confirmando a doutrina tradicional da Igreja sobre estes assuntos, ninguém mais poderá reclamar de não ter podido falar, de não ter podido expressar sua opinião. Coerentemente, terão que assumir aquilo que Pedro disser e confirmar.
Esta é minha visão, fundamentada na fé de que, segundo as palavras do papa Emérito, Bento XVI, Cristo não abandona a sua Igreja!.
Penso que o momento presente, para nós que não estamos "dentro" do Sínodo seja o da oração. Pedindo a Deus que cada um dos sinodais diga o que pensa e o que os outros querem que seja dito. Pedir pelo Santo Padre, para que iluminado pelo Espírito Santo conduza a Igreja pelos caminhos da autêntica e verdadeira fé, pela qual, durante a história da Igreja, tantos e tantas, incluindo Papas, deram sua vida.
Agora é o tempo da oração pela Igreja, pelo Papa e pelo Sínodo.
D. Antonio Carlos Rossi Keller - Bispo de Frederico Westphalen - Brasil
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