Roberto tinha acabado de chegar àquele pequeno vilarejo nos limites fronteiriços da nação. O contingente militar ao qual pertencia fora destacado para lá. Era um jovem oficial gracioso, solteiro e possuidor de uma brilhante carreira militar. Além de todas estas qualidades, usava com aprumo o seu uniforme. Poucos dias depois da sua chegada, foi convidado, juntamente com outros jovens oficiais, para participar num baile tradicional daquele povoado. Claro que a “tradição” não dependia das datas do calendário, mas sim da chegada ou não de novas caras àquela região perdida.
O sarau era promovido por uma das famílias mais importantes do lugar. Evidentemente, a iniciativa era estimulada e alentada por todas as raparigas solteiras da região. Cheias de boas intenções, elas desejavam conhecer pessoalmente os novos oficiais que tinham visto desfilar com os seus uniformes pelas ruelas do vilarejo.
Durante o baile, Roberto deu-se conta de que havia uma rapariga sentada que ninguém convidava para dançar. Movido por nobres sentimentos, dirigiu-se na sua direcção e formulou-lhe o convite com toda a delicadeza que lhe era característica. Somente depois de acabar de falar é que se apercebeu de que Margarida ― assim se chamava a rapariga ― estava sentada numa cadeira de rodas. A gaffe cometida não podia ter sido maior!
Roberto regressou ao quartel com o coração na mão. Estava muito preocupado com o que Margarida teria ficado a pensar dele. É verdade que ele agira cheio de boas intenções e que pedira imensas desculpas pelo monumental mal-entendido. Porém ― pensava ele com excessiva preocupação pela própria imagem ― e se Margarida não tivesse acreditado? E se ela dissesse a toda a gente que ele tinha feito uma brincadeira de mau gosto?
A verdade, porém, não era essa. Margarida acreditara sinceramente nas desculpas do jovem oficial. No entanto, Roberto não conseguia controlar o seu mundo interior. Estava cheio de uma preocupação doentia pelo que podiam pensar os outros dele. Resolveu, então, enviar à rapariga um magnífico ramo de flores com um novo pedido de desculpas. No cartão que o acompanhava, Roberto escreveu umas palavras tão ardentes e fascinantes que Margarida quando as leu ficou convencida de que o jovem oficial estava profundamente apaixonado por ela.
Uns dias mais tarde, ao encontrar-se casualmente com ela, Roberto deu-se conta do erro com que tinham sido interpretadas as suas flores. Pensou em desfazer o equívoco quanto antes. Teria sido, evidentemente, uma demonstração de genuína caridade! No entanto, o medo de dizer algo que pudesse “ferir” fê-lo calar-se. Isso gerou, posteriormente, muito mais sofrimento ao coração de Margarida quando ela descobriu a verdade. Roberto, porém, só pensava nos seus próprios sentimentos. E, com a desculpa de não querer ferir Margarida, encobria o seu egoísmo e a sua debilidade.
Esta história faz-nos pensar que, como alguém disse alguma vez, o pior deste mundo não procede da maldade, mas da debilidade. E a vaidade é um dos impulsos mais fortes das pessoas débeis.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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