Amamo-Lo de verdade? Não será que amamos antes os nossos pecados? Odiemos o pecado e amemos Quem há de vir castigar o pecado. Ele virá, queiramos ou não. O facto de que não venha agora não quer dizer que não venha mais tarde. Virá e não sabemos quando, mas em nada esta ignorância nos prejudicará se Ele nos encontrar preparados» [3].
O regresso de Cristo não deve causar medo nem preocupação ao homem ou à mulher de fé. Pelo contrário, há de ser um incentivo para realizar boas obras, habitualmente sem chamar a atenção. Basta ser e atuar como cristãos, a toda a hora, para colaborar com Ele na extensão do Seu Reino, que agora cresce de forma escondida, até se manifestar na sua plenitude, no fim dos tempos. S. Josemaria recordava-nos esta verdade com frequência. Temos uma grande tarefa à nossa frente. A atitude de ficarmos passivos não é razoável, porque o Senhor nos declarou expressamente: negociai até que Eu venha (Lc 19, 13). Enquanto esperamos o regresso do Senhor (…), não podemos ficar de braços cruzados. A extensão do Reino de Deus não é só tarefa oficial dos membros da Igreja que representam Cristo, por d'Ele terem recebido os poderes sagrados. Vos autem estis corpus Christi, vós também sois Corpo de Cristo, ensina-nos o Apóstolo, com o mandato concreto de negociar até ao fim [4].
Talvez nos passe pela mente a ideia de que temos poucos talentos, escassas qualida¬des, ou de que o trabalho que temos é monótono, com pouco reflexo nos assuntos das almas e do mundo; uma ideia que o nosso Padre referia quando estava refugiado numa sede diplomática, durante a perseguição religiosa em Espanha. Privado da possibilidade de exercer livremente o seu ministério sacerdotal, reduzido – poderia dizer-se – a uma inatividade exterior quase absoluta, na companhia de um pequeno grupo de fiéis da Obra, alertava-os assim: a minha vida é agora tão monótona! Como conseguirei que frutifiquem os dons de Deus neste descanso forçado, nesta obscuridade em que me encontro? Não esqueças que podes ser como os vulcões cobertos de neve, que fazem contrastar o gelo de fora com o fogo que lhes devora as entranhas. Por fora, sim, poderá cobrir-te o gelo da monotonia, da escuridão; parecerás exteriormente como que atado. Mas, por dentro, o fogo não cessará de te abrasar, nem te cansarás de compensar a carência de ação externa com uma atividade interior muito intensa. Pensando em mim e em todos os nossos irmãos, que fecunda se tornará a nossa inatividade! Do nosso trabalho aparentemente tão pobre surgirá, através dos séculos, um edifício maravilhoso [5].
O Papa Francisco também no-lo recordava há poucos dias: estamos chamados a tornar-nos santos precisamente vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho cristão nas ocupações diárias (…). Em tua casa, pela rua, no trabalho, na igreja, nesse momento e no teu estado de vida, abriu-se o caminho para a santidade. Não desanimeis ao percorrer esse caminho. É precisamente Deus quem nos dá a graça. O Senhor só pede isto: que permaneçamos em comunhão com Ele e ao serviço dos irmãos [6].
[3]. S. Agostinho, Narrações sobre os Salmos, 95, 14-15 (CCL 39, 1351-1353).
[4]. S. Josemaria, Cristo que passa, n. 121.
[5]. S. Josemaria, Notas de uma meditação, 6-VII-1937.
[6]. Papa Francisco, Discurso na audiência geral, 19-XI-2014.
D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta do mês de dezembro de 2014
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
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