Pergunto-me
se um homem moderno pode crer, crer verdadeiramente, que Jesus de Nazaré é Deus
feito homem. Isso é experimentado como um absurdo.
Certo; para um
homem moderno, é uma coisa quase impensável, quase absurda, que facilmente se
atribui ao pensamento mitológico de um tempo passado que já não seria aceitável.
A distância histórica torna mais difícil pensar que um indivíduo que viveu num
tempo distante possa estar presente agora, para mim, e que seja a resposta às minhas
perguntas.
Parece-me
importante observar que Cristo não é um indivíduo do passado, distante de mim,
mas criou um caminho de luz que invade a História. Esse caminho começou com os
primeiros mártires, com essas testemunhas que transformaram o pensamento humano,
que compreenderam a dignidade humana do escravo, que se ocuparam dos pobres,
dos que sofrem, e assim trouxeram uma novidade ao mundo, também pelo seu sofrimento;
depois, com os grandes doutores que transformaram a sabedoria dos gregos, dos
latinos, numa nova visão do mundo que, inspirada precisamente em Cristo, encontrou
em Cristo a luz para interpretar o mundo; enfim, com figuras como São Francisco
de Assis, que criou o novo humanismo, ou ainda com figuras do nosso tempo: pensemos
na Madre Teresa [de Calcutá], em Maximiliano Kolbe...
É um caminho
de luz ininterrupto que abre passagem na História, e uma ininterrupta presença
de Cristo. Parece-me que este facto - de que Cristo não ficou no passado, mas foi
sempre contemporâneo de todas as gerações e criou uma nova História, uma nova luz
na História, na qual está presente e é sempre contemporâneo - leva a entender
que não se trata de uma grande personalidade histórica qualquer, mas de uma
realidade verdadeiramente Outra, que sempre traz luz. Assim, associando-nos a
esta História, [...] não entramos em relação com uma pessoa distante, mas com
uma realidade presente.
(Cardeal Joseph Ratzinger em entrevista a António Socci, em 'Il Giornale',
26.11.2003)
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