As religiões (e agora também o agnosticismo e o ateísmo) são consideradas iguais. Mas com certeza isto não é assim. Com efeito, há formas de religião degeneradas e doentias, que não elevam o homem, mas o alienam: a crítica marxista da religião não carecia totalmente de base. Também as religiões nas quais é preciso reconhecer uma grandeza moral, e que estão a caminho da verdade, podem adoecer em certos trechos desse caminho. No hinduísmo (que mais propriamente é um nome coletivo para diversas religiões), há elementos grandiosos, mas também aspectos negativos: por exemplo o entrelaçamento com o sistema de castas, a prática da queima de viúvas - que se formou a partir de representações inicialmente simbólicas -, bem como as aberrações do shaktismo (N.T. - Conjunto de crenças dentro do tantrismo - movimento filosófico e ritualístico que influenciou diversas seitas hinduístas, budistas etc. - que preconiza a realização espiritual por meio de práticas densamente simbolistas, que em alguns casos abrangem a magia negra, o culto à morte e práticas sexuais orgiásticas), para mencionar apenas um par de situações.
Também o Islão, com toda a grandeza que representa, está continuamente exposto ao perigo de perder o equilíbrio, de dar espaço à violência e deixar que a religião deslize para o ritualismo externo.
E naturalmente há também, como todos nós bem sabemos, formas doentias no cristianismo. Assim aconteceu quando os cruzados, na conquista da cidade santa de Jerusalém, em que Cristo morreu por todos os homens, mergulharam muçulmanos e judeus num banho de sangue. Isto significa que a religião exige discernimento, discernimento em relação às formas das religiões e discernimento no interior da própria religião, conforme o seu próprio nível.
Com o indiferentismo quanto aos conteúdos e às ideias -todas as religiões, embora distintas, seriam iguais -, não se pode ir adiante. O relativismo é perigoso, tanto para a formação do ser humano individualmente como em comunidade. A renúncia à verdade não cura o homem. Não se pode esquecer o enorme mal que se fez na História em nome de opiniões e intenções boas.
(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘Fe, verdad y cultura’)
Sem comentários:
Enviar um comentário