Se não acreditardes, não compreendereis (cf. Is 7, 9): foi assim que a versão grega da Bíblia hebraica — a tradução dos Setenta, feita em Alexandria do Egipto — traduziu as palavras do profeta Isaías ao rei Acaz, fazendo aparecer como central, na fé, a questão do conhecimento da verdade. Entretanto, no texto hebraico, há uma leitura diferente; aqui o profeta diz ao rei: « Se não o acreditardes, não subsistireis ». Existe aqui um jogo de palavras com duas formas do verbo ‘amàn: « acreditardes » (ta’aminu) e « subsistireis » (te’amenu). Apavorado com a força dos seus inimigos, o rei busca a segurança que lhe pode vir de uma aliança com o grande império da Assíria; mas o profeta convida-o a confiar apenas na verdadeira rocha que não vacila: o Deus de Israel. Uma vez que Deus é fiável, é razoável ter fé n’Ele, construir a própria segurança sobre a sua Palavra. Este é o Deus que Isaías chamará mais adiante, por duas vezes, o Deus-Amen, o « Deus fiel » (cf. Is 65, 16), fundamento inabalável de fidelidade à aliança. Poder-se-ia pensar que a versão grega da Bíblia, traduzindo « subsistir » por « compreender », tivesse realizado uma mudança profunda do texto, passando da noção bíblica de entrega a Deus à noção grega de compreensão. E no entanto esta tradução, que aceitava certamente o diálogo com a cultura helenista, não é alheia à dinâmica profunda do texto hebraico; a firmeza que Isaías promete ao rei passa, realmente, pela compreensão do agir de Deus e da unidade que Ele dá à vida do homem e à história do povo. O profeta exorta a compreender os caminhos do Senhor, encontrando na fidelidade de Deus o plano de sabedoria que governa os séculos. Esta síntese entre o « compreender » e o « subsistir » é expressa por Santo Agostinho, nas suas Confissões, quando fala da verdade em que se pode confiar para conseguirmos ficar de pé: « Estarei firme e consolidar-me-ei em Ti, (…) na tua verdade ». [17] Vendo o contexto, sabemos que este Padre da Igreja quer mostrar que esta verdade fidedigna de Deus é, como resulta da Bíblia, a sua presença fiel ao longo da história, a sua capacidade de manter unidos os tempos, recolhendo a dispersão dos dias do homem.[18]
[17] Confessiones, XI, 30, 40: PL 32, 825.
[18] Cf. ibid.: o. c., 825-826.
Lumen Fidei, 23
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