Pela leitura de diversos documentos do Magistério, parece inferir se que, do ponto de vista pastoral, uma das principais preocupações da Igreja com relação ao homem contemporâneo é o ateísmo. Trata-se, hoje, mais de um ateísmo prático que de um ateísmo ideológico?
A raiz de todos os problemas pastorais é, sem dúvida, a perda da capacidade de perceber a verdade, que avança lado a lado com a cegueira perante a realidade de Deus. Vale a pena sublinhar como interagem aqui o orgulho e a falsa humildade. Em primeiro lugar vem o orgulho, que incita o homem a emular o próprio Deus, a considerar-se capaz de entender sozinho os problemas do mundo e de reconstruí-lo. Na mesma medida, surge a falsa modéstia, que sustenta a ideia de que é inteiramente impossível que Deus se preocupe com os homens e chegue até a falar-lhes. O ser humano já não se atreve a aceitar que é capaz de conhecer a verdade: parece-lhe uma presunção, e pensa que deve conformar-se com agir.
Em consequência, a Sagrada Escritura torna-se muda para ele: já não lhe diz o que é verdade, mas apenas o informa sobre o que tempos e homens passados pensavam que fosse verdadeiro. Com isso, muda também a imagem da Igreja: ela deixa de ser a transparência do Eterno e passa a ser apenas uma espécie de liga em prol da moral e do melhoramento das coisas terrenas; a medida do seu valor estaria no seu êxito terreno.
Infiltram-se aqui, necessariamente, o ateísmo prático e o ideológico, juntamente com uma certa conveniência. Primeiro, procede-se apenas como se Deus não existisse; mas depois é preciso justificar essa posição, explicando o primado da práxis [da ação].
Daqui para a ideologia, é um passo curto.
(Cardeal Joseph Ratzinger in entrevista a Jaime Antúnez Aldunate)
Sem comentários:
Enviar um comentário