Embora nascido em Haia, Holanda, a minha paróquia é a
de Nossa Senhora da Encarnação, ao Chiado. Com efeito, é aí que está a casa
onde já viveram seis gerações de pessoas da minha família. E é nos respectivos
registos do cartório paroquial que estão atestadas as suas principais
efemérides, que traçam, no júbilo das suas festas e nas dores dos seus lutos, o
itinerário cristão da família. Porque é a casa do Pai do Céu e nós cristãos
somos, pela graça do Baptismo, filhos de Deus, a igreja paroquial é uma outra
casa da família. Por estar tão cheia de memórias íntimas, desde sempre a
sentimos muito nossa, como nossas são também as suas alegrias e as suas
penas.
Hoje, o meu
prior e a minha paróquia estão de luto, pelo repentino falecimento de um seu
sobrinho e assíduo paroquiano. O Luís Seabra Duque era muito familiar a todos
os paroquianos da Encarnação, pela sua presença constante nas celebrações
paroquiais, que amiúde animava com o seu serviço e os seus cânticos. Sempre que
lá celebrava, surpreendia-me o seu jovial sorriso, a sua sempre amável
disponibilidade, a sua delicadeza no sempre tão discreto e eficaz serviço que
prestava com a maior simplicidade. Nunca lhe vi nenhum gesto de contrariedade,
nenhuma mal contida impaciência, nenhum gesto de desagrado. Nunca lhe ouvi
qualquer palavra irada. A sua atitude sempre serena e amável não era apenas
própria da sua educação, mas expressão autêntica da sua devoção e do seu
espírito de serviço a todas as almas.
Se é certo que
a minha paróquia e o seu pároco perderam, no Luís, um dedicadíssimo paroquiano
e sobrinho, quero crer que ambos e todos nós, paroquianos de Nossa Senhora da
Encarnação, ganhámos um intercessor junto de Deus.
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