Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O olho e o argueiro (excerto)

Nos EUA, o país mais rico e poderoso de sempre, o Estado paralisou devido a zangas parlamentares. Este caso insólito exige uma reflexão acerca dos debates cívicos, lá como cá. O interesse vem precisamente de o caso ser tão inacreditável. Que num país rico e sofisticado uma raiva de políticos leve à subversão da sua própria missão política é ultrajante. Pior quando o tema é o indispensável sistema nacional de saúde, que todos os países civilizados têm, e na América é obviamente disfuncional.
(…)
Este problema incrível nasce de um defeito da democracia que, apesar disso, se mantém muito superior às alternativas. Coisas destas não acontecem no unanimismo das ditaduras ou no caos das anarquias, mas aí tudo é pior. Os EUA têm estes dramas patéticos precisamente porque vivem numa sociedade desenvolvida, plural e sofisticada.
Além disso notamos que Portugal e a nossa classe política, afinal, não são assim tão deficientes. Países ricos e poderosos, como EUA ou Itália, vivem situações mais anómalas e ridículas. O nosso derrotismo deduz calamidades de cada obstáculo, mas a verdade é que problemas grotescos todos têm e, apesar dos terríveis sofrimentos, os nossos até se vão resolvendo com alguma elevação e ligeireza.
(…)
Um último passo, que também depende crucialmente da forma como decidimos enfrentar a situação, está no esforço para compreender a posição adversária. O bloqueio norte-americano, como os debates da austeridade portuguesa, nascem da obstinação em recusar a parte de verdade que o outro lado possui; mesmo se difícil de compreender. O sistema de saúde de Obama tem evidentes vantagens, que os republicanos extremistas omitem, enquanto os democratas radicais ignoram as preocupações económicas dos oponentes. Por cá as altercações à volta do Orçamento estão eivadas de igual tacanhez. Muitos acusam levianamente o Governo de maldade ou incompetência, enquanto alguns governantes consideram subversão e terrorismo as críticas compreensíveis. Os ânimos andam exaltados e qualquer declaração substantiva recebe enxurradas de ataques e insultos, interpretando--a de maneira agressiva, atribuindo-lhe intenções torpes e mentecaptas. Até um artigo de opinião como este. Mas a grande maioria dos intervenientes, aqui como nos EUA, são pessoas honestas e serenas, cordatas e bondosas, que se zangam por verem lados diferentes em questões difíceis e intrincadas.
(…) Apesar de todos os riscos e falhas, cada dia, precisamente por ser, mostra o bem superior ao mal. Podemos procurar a face luminosa e unificadora, ou apostar na sombra e divisão. Podemos acusar os opositores, ou tentar compreendê-los. Tudo isso se deve, não à realidade, mas à forma como olhamos a realidade. Cada um define-se pelo lado que escolhe.

João César das Neves in ‘DN online’ – texto completo AQUI

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