Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Homilia do Prelado do Opus Dei a 26 de junho de 2013 por ocasião da Festa de São Josemaría Escrivá

Queridos irmãos e irmãs:



Este ano celebramos a festa litúrgica de São Josemaria em pleno Ano da Fé. Já decorreram muitos meses desde o seu início, mas ainda restam alguns antes da sua conclusão. Parece-me, por isso, oportuno refletir hoje juntos sobre como estamos a viver este tempo de graça. Dirijamos o nosso olhar para São Josemaria; recorramos à sua intercessão, enquanto consideramos alguns aspetos da fé, recebida de Deus, que ele viveu heroicamente. 
Detenho-me em algumas características desta sua virtude. Muito tempo antes da fundação do Opus Dei, São Josemaria - quando ainda era rapaz - intuiu que Deus queria qualquer coisa dele, algo que não conhecia. Para estar mais disponível para a Vontade de Deus, deixou de lado os seus legítimos planos pessoais e decidiu tornar-se sacerdote. Durante dez, onze anos de estudo, de preparação espiritual confiada, rezou muito condensando a sua oração pessoal nas palavras do cego do Evangelho: Domine, ut videam!, Senhor, que eu veja. E acrescentava o recurso à Virgem: Domina ut sit! Senhora, que seja, que se cumpra em mim a vontade do teu Filho. Deste modo, por esta já intensa vida de fé, de esperança e de amor, no dia 2 de outubro de 1928 estava preparado para acolher o projeto divino sobre a Obra.

Perto do fim da sua existência terrena, numa reunião familiar com muitas pessoas, comentava que a sua vida tinha seguido de algum modo o que aconteceu com Abraão, nosso pai na fé, que in spe contra spem credidit (Rm 4, 18), acreditou em Deus, contra toda a esperança. Dizia: Porque, há cerca de quarenta e sete anos, havia um sacerdote - que conheço a meias, tão pecador como eu - sem qualquer meio humano, sem nada: não tinha mais que vinte e seis anos, a graça de Deus e bom humor. Aqui fez uma pausa e continuou:Humanamente falando não é um grande tesouro, não é verdade?, mas diante de Deus... E agora estais vós aqui; e há irmãos vossos em todo o mundo: de todas as cores, de todas as raças, de todas as línguas (S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar na Argentina, 9-VI-1974).

Coisas grandes
Parece-me que esta vida de fé se liga muito bem com o Evangelho da Missa de hoje, em que contemplamos a resposta de fé de São Pedro. Aqueles pescadores tinham-se cansado em vão toda a noite, sem ter conseguido nenhum fruto do seu duro trabalho. E Jesus, depois de ter falado à multidão, diz a Pedro: Faz-te ao largo e vós lançai as redes para a pesca. Um momento de incerteza e imediatamente o Apóstolo lhe responde: mas já que o dizes, lançarei as redes. E realizou-se o milagre: apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se (Lc 5, 4-6). Foi um prodígio que Deus realizou com a colaboração humilde, cheia de fé, de Pedro e dos seus companheiros.
Não esqueçamos esta realidade: também na nossa vida, no nosso trabalho, Deus está disposto a realizar grandes coisas. Espera, no entanto, a nossa fé: que acreditemos verdadeiramente n’Ele, Filho de Deus que se fez homem para nos salvar. Noutra ocasião, os doze perguntaram ao Senhor como fazer os milagres que Ele fazia. E esta foi a resposta de Jesus: Esta é a obra de Deus: acreditar n’Aquele que Ele enviou (Jo 6, 29)
Deus é o mesmo de sempre, escreveu São Josemaria em Caminho— O que falta são homens de fé; e renovar-se-ão os prodígios que lemos na Sagrada Escritura. -"Ecce non est abbreviata manus Domini". - A mão de Deus, o seu poder, não diminuiu!
(Caminho, 586).

Hoje, como ontem, o Senhor está disposto a fazer grandes coisas. Precisa apenas da nossa colaboração, do nosso empenho numa conversão que chegue a todas as pessoas que vivem à nossa volta. "Nesta perspetiva, o Ano da Fé - explicava Bento XVI na carta em que o convocou - é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo" (Bento XVI, Carta apostólicaPorta fídei, 11-X-2011, n. 7).

Crescer dia a dia
Não basta acreditar de um modo teórico. É necessário, sem dúvida, acolher fielmente os ensinamentos da Igreja, mas também é necessário que a fé se reflita em toda a nossa vida, se manifeste em todas as circunstâncias, tanto nas que parecem importantes como nas pequenas ocupações que compõem o tecido do nosso quotidiano. Por outro lado, "só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus" (Bento XVI, Carta apost. Porta fídei, 11-X-2011, n. 13).

Completamente leal a esta lei da vida sobrenatural, São Josemaria empenhou-se decididamente em crescer dia após dia na fé. Apoiando-se nesta virtude infundida por Deus na sua alma, colaborando com a sua resposta pessoal, este santo sacerdote foi capaz de superar todas as dificuldades que se interpunham ao cumprimento da vontade divina.
Por exemplo, em 1934, poucos anos depois da fundação do Opus Dei, escrevia:Não se me ocultam os obstáculos que ides encontrar. Alguns poderão parecer insuperáveis, mas inter medium montium pertransibunt aquae : e o espírito sobrenatural da Obra e o ímpeto do vosso zelo passarão através dos montes, e vencereis esses obstáculos (Instrução, 1-IV-1934, n. 7). E com a mesma convicção repetia em 1974: Salvarão este nosso mundo (...) não os que pretendem narcotizar a vida do espírito, reduzindo tudo a questões económicas ou de bem-estar material, mas os que têm fé em Deus e no destino eterno do homem e sabem receber a verdade de Cristo como luz orientadora para a ação e a conduta (Discurso na investidura de doutores "honoris causa", Pamplona, 9-V-1974).
São Josemaria procurou pregar esta fé, ou melhor, ensiná-la e difundi-la por toda a terra. E hoje, graças a Deus, são milhões as pessoas de todas as idades, de todas as culturas e estratos sociais, que - seguindo as pegadas destes ensinamentos – se esforçam por encontrar Deus em todas as circunstâncias da vida quotidiana. Tanto homens como mulheres seguem Cristo mais de perto, como Pedro, João, André e os outros apóstolos depois da pesca milagrosa. Com quanta força terão ressoado nas suas almas, aquelas palavras maravilhosas: Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens. E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus (Lc 5, 10-11).

Não é difícil!
Também nós, com a graça do Espírito Santo, somos capazes de seguir Jesus como os primeiros Doze, cada um no lugar onde Deus o chama: não é difícil! E aí, onde o Senhor nos encontrou ou nos pede que permaneçamos, dar a conhecer e amar Jesus a muitas outras pessoas. Com palavras do Papa Francisco, podemos perguntar: "E nós? Somos nós capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para nós, em família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diária? A fé nasce da escuta, e fortalece-se no anúncio" (...).
"Isto vale para todos", continua o Santo Padre: "tem-se de anunciar e testemunhar o Evangelho. Cada um deveria interrogar-se: Como testemunho Cristo com a minha fé? Tenho a coragem de Pedro e dos outros Apóstolos para pensar, decidir e viver como cristão, obedecendo a Deus? É certo que o testemunho da fé se reveste de muitas formas, como sucede num grande fresco que apresenta uma grande variedade de cores e tonalidades; todas, porém, são importantes, mesmo aquelas que não sobressaem. No grande desígnio de Deus, cada detalhe é importante, incluindo o teu, o meu pequeno e humilde testemunho, mesmo o testemunho oculto de quem vive a sua fé, com simplicidade, nas suas relações diárias de família, de trabalho, de amizade" (Papa Francisco, Homilia na Basílica de São Paulo Extramuros, 14-IV-2013). 

Para terminar, escutemos estas palavras de São Josemaria. A nossa fé não é uma carga, nem uma limitação. Que pobre ideia da verdade cristã manifestaria quem assim pensasse! Ao decidirmo-nos por Deus não perdemos nada; ganhamos tudo. (...) Tirámos a carta que ganha, conseguimos o primeiro prémio. Quando alguma coisa nos impedir de ver isto com clareza, examinemos o interior da nossa alma. Talvez haja pouca fé, pouca intimidade pessoal com Deus, pouca vida de oração. (Amigos de Deus, n. 38 ).

Peçamos a Deus Nosso Senhor, através de sua Mãe, que também é nossa Mãe,que aumente em nós o seu amor, que nos conceda saborear a doçura da sua presença; porque só quando se ama se chega à mais plena liberdade: a de jamais querer abandonar, por toda a eternidade, o objeto dos nossos amores (Amigos de Deus, n. 38). E com a intercessão de São Josemaria, supliquemos a Deus que nos meses do Ano da Fé que ainda nos restam e, depois, durante toda a vida, permaneça mais forte, mais firme, mais ardente a nossa fé, na vida sacramental com o recurso frequente à Confissão e à Eucaristia. Assim seja. 

Roma, Basílica de Santo Eugénio, 26-VI-2013

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