Uma extraordinária e comovedora audiência geral e o encontro com os cardeais foram os últimos grandes momentos públicos do pontificado de Bento XVI. Um pontificado que, pela primeira vez na história, se conclui tranquilamente, sem o drama da morte do bispo de Roma, sem as agitações que levaram às renúncias papais do passado, tão distantes no tempo e tão diversas que não podem ser consideradas antecedentes reais. Agora, de um "modo novo" o Romano Pontífice permanece ao lado do Senhor na cruz, nunca abandonado no percurso de uma vida longa e extraordinariamente frutuosa. Que se abre, a partir de hoje mais do que antes, ao espaço destinado à oração e à meditação.
Sim, Bento permanece na Igreja, próximo do sucessor de Pedro que será escolhido pelos cardeais. Um grupo de homens, certamente, mas que de modo misterioso é vivificado pelo sopro do Espírito e motivado por um sentido de responsabilidade único, que o colégio demonstrou saber honrar, como a história mostra, sobretudo desde o final do século XVIII. Por isso Joseph Ratzinger voltou de certa forma à sua eleição, encontrando no último dia do pontificado aquele colégio - nunca tão numeroso como naquela data - que a 19 de Abril de 2005 o votou em poucas horas, mesmo se ele não tinha procurado de modo algum o papado. "A Igreja nunca morre" escrevia na Idade Média o teólogo Egídio Romano, teorizando que "durante a vacância da sede o poder papal permanece" nos cardeais reunidos para eleger o Pontífice.
Do conclave de há oito anos Bento XVI falou também numa praça de São Pedro cheia e iluminada por um sol de fins de Inverno: "Senhor, por que me pedes isto e o que me pedes" era a pergunta presente naquele momento no seu coração e que encontrou uma primeira resposta nos lábios do próprio Papa, quando disse durante a missa inaugural do pontificado que o seu programa era ouvir todos os dias, juntamente com a Igreja, a vontade do Senhor. E durante oito anos Cristo guiou o Pontífice, como repetiu, acrescentando que nunca se sentiu sozinho "ao carregar a alegria e o peso" de um cargo único no mundo. E isto porque "o Papa pertence a todos e muitíssimas pessoas se sentem muito próximas dele".
Proximidade que, também visivelmente, Bento XVI experimentou desde o dia 11 de Fevereiro, quando anunciou a sua renúncia em plena liberdade e publicamente, mas que todos os dias sentiu nos oito anos de um pontificado que a história reconhecerá na sua grandeza. Uma grandeza não procurada mas que se impôs, e não só numa dimensão espiritual. A Peter Seewald o Pontífice, eleito com uma idade já avançada, disse que nos séculos a grandes Papas se alternaram pequenos Papas, especificando com simplicidade e sem fingimento algum, que se sentia um pequeno Papa, instrumento nas mãos de Deus. Mas precisamente por isto não só os católicos, nem apenas os cristãos, nem unicamente os crentes, mas em grande número mulheres e homens de todo o mundo compreenderam cada vez mais que tinham diante de si um Papa entre os maiores, um grande homem do nosso tempo.
E precisamente a renúncia, acto grave e novo que alguns não compreendem, mostrou a todos a coragem humilde mas muito firme e a serenidade jubilosa deste homem: com efeito, nem sequer uma vez Bento XVI recuou diante dos lobos e nunca se deixou subjugar pela perturbação diante da sujidade e dos escândalos, que ao contrário contrastou com determinação. Apoiado por tantos colaboradores, como repetiu várias vezes, mas sobretudo pela oração que por ele se elevava na Igreja, como pelo apóstolo Pedro. E talvez a serenidade jubilosa - que vem da confiança em Deus e transparece de modo tão visível no seu rosto - seja a herança mais duradoura deste Papa, que conclui na paz e de modo novo um pontificado inesquecível.
GIOVANNI MARIA VIAN - Diretor
(© L'Osservatore Romano - 3 de Março de 2013)
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