A verdadeira origem vem do traço paternalista da cultura portuguesa, que sempre gosta de sentir a mão protectora do Estado. Até para poder dizer mal dela. Em Portugal nunca houve, nem pode haver, pensamento liberal. Há críticos e defensores do Governo, mas da extrema-esquerda à extrema-direita toda a gente só fala do Estado. Esta atitude de fundo manifesta-se depois nas opções particulares. Os pais querem saber que o Estado paga, mesmo quando o único dinheiro vem dos nossos impostos e é mal gosto. Os professores querem ser funcionários públicos, mesmo que detestem o patrão-Estado. O Ministério quer aumentar ao máximo as suas competências, mesmo sabendo que ficará com culpas de que é inocente.
Isto está patente no livro do professor Jorge Cotovio O Ensino Privado nas Décadas de 50, 60 e 70 do Século XX. O Contributo das Escolas Católicas (Gráfica de Coimbra 2, 2012). A obra monumental, além de exaustiva investigação das fontes documentais, estatísticas e legislativas, inclui 30 preciosas entrevistas a protagonistas, alguns já falecidos. Lendo esta fascinante história compreende-se a questão educativa portuguesa, não apenas nessa época e tipo de escola, mas em geral.
"Os trinta anos do período em análise são atravessados por dois regimes com diversos 'Estados' e variadas políticas governamentais. Apesar deste mosaico, e no tocante ao ensino privado e temário conexo, a atitude do Poder manifesta um denominador comum que se pode traduzir pela palavra 'tolerância'" (p. 379). Assim não admira que Portugal tenha há décadas um grave problema educativo.
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