A comemoração do quadragésimo aniversário de bacharelado congregou este grupo de homens, a maioria dos quais hoje são avós. Assim teve lugar o reencontro, e houve espaço e tempo para a recordação, a comemoração e a celebração gratuita da vida; a celebração que evita todos os controles ou reducionismos, levando a perscrutar o caminho percorrido, a partir do horizonte sapiencial da maturidade. Durante o seu encontro, estes homens recordaram-se. A sua primeira lembrança foi uma mera soma de anedotas e informações; não foi nem sequer o comportamento proustiano do retorno, sempre circular, sobre a vida. A sua recordação constituiu um acontecimento significativo no fluxo da própria vida.
Todos eles empreenderam veredas diferentes, todos tinham uma bagagem para compartilhar; cada um trouxe consigo sorrisos e lágrimas, feridas e triunfos. E ali, nesta realidade do encontrar-se, na alegria da celebração, tiveram a coragem de olhar para trás.
Conheci todos eles quando tinham 16 ou 17 anos. Foram meus alunos de literatura e psicologia durante o quarto e o quinto ano do liceu clássico. Eram jovens entusiastas e criativos. O exercício literário que eu pretendia deles consistia em escrever contos; impressionava-me a sua capacidade narrativa. Escolhi alguns dos contos que eles tinham escrito e mostrei-os a Borges. Também ele ficou impressionado, e chegou a encorajar a publicação daqueles textos; além disso, quis escrever o prefácio com o próprio punho.
Podemos, porventura, afirmar que eram pequenos génios? Não chegaria a tanto, mas estou convicto de que eram pessoas normais.
Eu tinha uma grande estima por eles. Não me eram e nem sequer me são indiferentes. O tempo passou e não me esqueci deles. Alguns já se encontram diante de Deus: o primeiro, Felipe Adjad, "o turco", como lhe chamávamos. Todos foram bem sucedidos na vida e hoje aproveitam o tempo para fazer descansar o coração no encontro amistoso para o quadragésimo aniversário. Foi Jorge Milia, prémio Nobel da originalidade, quem traçou estes retratos. São histórias autênticas. Lendo-as, conseguiremos compreender muitos aspectos destes homens originais, tão originais quanto os contos por eles escritos. Lendo-os, como diz Jorge, entenderemos que "quando dizíamos com orgulho: "Nós somos da Imaculada", não nos referíamos a algo dotado de linhagem e história; falávamos dela". A Virgem tinha muito a ver com as suas vidas.
Enquanto escrevo o prefácio para esta publicação desejo, em primeiro lugar, dar graças a Deus por ter compartilhado com eles dois anos da minha vida. Manifestar-lhes a minha gratidão por todo o bem que me proporcionaram, e sobretudo por me terem obrigado e ensinado a ser mais irmão e mais pai. Também quero manifestar o meu desejo de que as suas vidas façam história para além da história pessoal de cada um. Que façam história como grupo, inspirando muitos jovens pelo caminho da criatividade; gostaria que a leitura destes fragmentos de vida fossem uma semente fecunda para quantos os lerem.
JORGE MARIO BERGOGLIO
(© L'Osservatore Romano - 10-17 de Agosto de 2013)
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