É mesmo verdade o que narram os Evangelhos? Não poderia ser uma bela história inventada por Mateus, Marcos, Lucas e João? Será que aconteceu mesmo assim? E se não foram eles que escreveram essa história? E se os copistas acrescentaram muitos episódios? Já se sabe: “quem conta um conto, acrescenta um ponto” – diz, cheio de razão, o nosso povo. Ultimamente, têm surgido muitas perguntas deste estilo. Sem pretender dar uma resposta profunda – não há espaço, nem os leitores têm paciência para escritos demasiadamente longos –, gostaria apenas de lançar alguns dados que podem ajudar a pensar sobre o tema da historicidade dos Evangelhos.
Cientificamente, um livro histórico merece credibilidade se possui três condições: autenticidade, veracidade e integridade. Por outras palavras: o livro foi escrito na época e pelo autor que lhe é atribuído (autenticidade), o autor conheceu os acontecimentos e não deseja enganar os seus leitores (veracidade) e o livro chegou até nós sem alterações substanciais (integridade).
Os Evangelhos parecem autênticos porque somente um autor contemporâneo de Jesus (ou discípulo imediato) poderia tê-los escrito. Basta pensar que a cidade de Jerusalém foi destruída no ano 70. As descrições que aparecem nos Evangelhos – muitas delas comprovadas por escavações arqueológicas – manifestam um conhecimento da cidade anterior a essa data. Também são dessa época os hebraísmos presentes no grego vulgar – língua em que foram escritos os relatos evangélicos. Além de tudo isto, os factos mais marcantes da vida de Jesus são perfeitamente comprováveis através de fontes históricas independentes.
Os Evangelhos parecem íntegros, uma vez que, desde os primeiros tempos, muitos cristãos fizeram deles numerosíssimas cópias – não há um fenómeno semelhante com nenhum outro livro da Antiguidade. Os testemunhos documentais, que hoje possuímos, são abundantes: mais de 6000 manuscritos gregos, 40000 manuscritos de traduções antiquíssimas – latim, copto, arménio –, frequentíssimas citações dos Evangelhos nas obras de escritores antigos.
E os copistas não poderiam ter acrescentado muita coisa? Havendo tantas cópias e de origens tão diversas, os copistas que modificassem alguma coisa seriam facilmente desmascarados. Os Evangelhos são – é um dado científico – os livros mais bem documentados de toda a Antiguidade. Possuem os manuscritos mais abundantes e mais próximos da época do seu autor.
E a veracidade? Pascal dizia que acreditava com mais facilidade nas histórias cujas testemunhas se deixam martirizar em comprovação do seu testemunho. De facto, conhecem-se poucos mentirosos dispostos a morrer para defender as suas mentiras. Além disso, os evangelistas não deixam de relatar os seus próprios defeitos, repreensões recebidas de Jesus e muitos factos embaraçosos que um falsificador poderia ter ocultado. De algum modo, é de agradecer que tenham surgido durante estes dois mil anos muitas críticas que tentaram eliminar a base histórica dos relatos evangélicos – não fizeram mais do que fortalecê-la.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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