Certa vez, dizia-me um jovem cheio de vitalidade e de entusiasmo pelas suas afirmações: «Sabe, nós, a nova geração, não somos hipócritas como antigamente. Dizemos o que pensamos, sem duplicidades nem “palavras bonitas”. Somos sinceros e somos autênticos. Não temos nenhum tipo de “tabus”.
Acho que isto é profundamente natural. As pessoas mais velhas deviam aprender connosco. Seriam felizes. Acabavam de vez com fingimentos e falsidades que nos asfixiam. Neste mundo com tendência para a hipocrisia, nós, a malta nova, não conseguimos respirar bem».
Na sociedade actual, existe uma grande sensibilidade pela virtude da sinceridade. Isto é algo muito positivo. Esta sensibilidade, muitas vezes, nasceu como uma reacção lógica a uma educação que se centrava demasiadamente no comportamento exterior. As pessoas davam-se conta de que, o modo de comportar-se diante dos outros, não correspondia, com frequência, ao modo de pensar.
E isto, para muitas pessoas, era aceite de um modo pacífico. Mesmo que significasse deixar de lado valores tão importantes como a espontaneidade, a naturalidade e a ausência de qualquer tipo de fingimento. Era algo que tinha de ser obrigatoriamente assim e não havia nada a fazer. Aqueles que pensassem de um modo diferente eram rotulados como “mal-educados”.
No entanto, “ser sincero” não significa o mesmo que “ser selvagem”. A agressividade no modo de falar ou no modo de actuar não são sinónimos de ausência de hipocrisia, mas sim de ausência de educação. É interessante verificar que, com frequência, com a “desculpa” de serem sinceras, certas pessoas acabam por ser grosseiras. Falam de um modo arrogante e deixam-se levar por uma certa tendência exibicionista. Orgulham-se de dizer todas as “verdades” sobre aquilo que pensam, mas não estão dispostas a ouvir nenhuma “verdade” vinda dos outros. Isto, logicamente, não é nenhuma demonstração de sinceridade, ainda que o chamem desse modo.
Podemos ser educados e, ao mesmo tempo, não cairmos na hipocrisia. Como diz A. Aguiló, a sinceridade não é uma simples incontinência verbal. É verdade que devemos dizer sempre aquilo que pensamos. O contrário seria mentir, sermos pouco claros e transparentes. No entanto, sem deixarmos de ser sinceros, devemos também pensar antes naquilo que dizemos.
Pensar antes de falar é uma manifestação de estima por aqueles com quem falamos. A ausência de respeito não aumenta a sinceridade de uma pessoa. Torna-a, isso sim, uma pessoa desagradável para aqueles que com ela convivem.
Hoje em dia, podemos verificar que a exaltação da sinceridade e, simultaneamente, o desprezo pela boa educação, não parecem ter produzido frutos muito positivos. Isso porque a verdadeira educação humaniza o ser humano e ajuda-o a ser sincero. É falso pensar que educar uma pessoa é enchê-la de hipocrisias.
Alguém disse uma vez, e com razão, que a má educação sincera, não é pelo facto de ser sincera, que deixa de ser má educação.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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