Por estes dias, o meu jornal está a dedicar várias páginas à Maçonaria. É um bom assunto. O melhor no mundo moderno ocidental, da igualdade à liberdade, está-lhe ligado. No último quarto de milénio, muitos dos nomes nobres que a História guardou foram maçons, e o seu legado, de uma maneira ou de outra, está relacionado com eles por terem sido maçons. Só para recordar um nome que parece não ter nada a ver com a frase anterior e tem: a Lisboa pombalina é luminosa porque o seu arquitecto, Carlos Mardel, foi maçom. Mas o próprio dos jornais não é fazer recolhas históricas, os seus leitores querem âncoras actuais: é assim tão forte a Maçonaria em Portugal, hoje? O bom e esforçado trabalho do meu jornal vai bater contra uma parede: muito da Maçonaria e quase todos os maçons são segredo. A Maçonaria destapa-se aqui e ali mas nunca se expõe, o resultado final de tentar focá-la acaba sempre em desilusão. O culto do segredo, por tão anacrónico, hoje, entende-se mal. A explicação mais imediata é que os maçons ganham por o ser, e fazem-no em segredo para ganharem ainda mais. Mas, ontem, António Reis, que liderou o Grande Oriente Lusitano, disse ao DN que não: serem maçons "pode-lhes causar dificuldades nas suas carreiras profissionais." Engraçado, tinha ideia do contrário: os maçons que exercem a minha profissão são mais do género a terem estátua sem eu saber porquê, do que não a terem embora a merecessem.
Ferreira Fernandes in DN online
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