Ela gostava de correr. Certo dia, alguém lhe sugeriu que tinha de tentar uma maratona. Pareceu-lhe uma meta inatingível: quarenta e dois quilómetros! O limite da resistência humana! Uma verdadeira loucura para alguém que só corria por gosto. Mesmo assim, vá-se lá saber porquê, decidiu-se a correr a maratona. Começou por desafiar algumas amigas ― quem corre por gosto não se cansa e quem corre acompanhado cansa-se menos ainda ― preparou-se com treinos adequados e inscreveu-se na competição. Ao quilómetro trinta, porém, as pernas já não respondiam. Foi necessário desistir.
Mas a história não termina aqui. Durante um ano, regressou aos treinos com a firme convicção de que ‘agora é que vai ser’. Preparou-se com todo o empenho de que se sentiu capaz. Fez das tripas coração com um propósito firme e decidido: «Desta vez vou conseguir. Se me faltarem as forças, quero lá saber, volto no ano que vem! Não vou desistir!».
Correu e correu e correu. Cansou-se muito, ou melhor, muitíssimo. Passou-lhe pela cabeça desistir porque tudo ― absolutamente tudo, sem excepções ― pode passar pela nossa cabeça. Afastou esse pensamento como quem afasta um mosquito impertinente. A decisão estava tomada. Insistiu e insistiu e insistiu. Quando avistou ao longe a tão almejada meta, sentiu-se rejuvenescer. O último quilómetro foi um verdadeiro passeio triunfal por uma avenida da cidade de Roma. Quando cruzou a raia, tinham passado mais de cinco horas de hercúleo esforço. «Valeu a pena!» ― foram as suas palavras. «Só não entende isto quem nunca lutou por um ideal até ao fim».
Qualquer ideal que valha a pena exige uma verdadeira força de vontade da nossa parte. A força de vontade não é um simples desejo genérico de fazer alguma coisa boa ― talvez no dia de São Nunca à tarde ― mas sim um esforço concreto, sacrificado e continuado por alcançar um objectivo. A primeira componente da força de vontade é a decisão firme de lutar por chegar à meta custe o que custar. Se essa meta vale mesmo a pena ― a única que cumpre este requisito radical chama-se Vida Eterna ― o esforço nunca será em vão. Mesmo que tenhamos a sensação ― tudo pode passar pela nossa cabeça ― de que ficaremos pelo caminho.
A força de vontade genuína ― não a aparente ― suscita em nós muitas forças ocultas que só alcançam a sua eficácia quando a meta está clara e a decisão de esforçar-se também. Não basta o desejo genérico por alcançar um objectivo. É preciso o esforço que nos leva a pôr os meios para que essa meta idealizada possa ser alcançada. Como alguém dizia, não basta sentirmos sede, é necessário o esforço continuado por caminharmos até à fonte por muito longe que ela esteja.
Se falta força de vontade, as metas na vida reduzem-se ao mais imediato, ao mais fácil de realizar. Pode-se sonhar com ideais maravilhosos, mas acaba-se escravo dos gostos passageiros e efémeros.
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