«Gostaria muito de que as pessoas mais velhas soubessem pôr-se mais ao nosso nível. Aborreço-me profundamente ao ouvir os adultos falarem como se estivessem num pedestal e com tanta segurança. Parece que estão convencidos de que têm sempre razão e que esta afirmação é — por definição — indiscutível. Muitas vezes, quando tentamos dialogar com eles só sabem responder: “Acabou-se a conversa. Faz o que eu te estou a dizer. Tu não percebes nada disto”.
«É verdade que nós jovens, com frequência, não facilitamos muito a comunicação com os nossos pais e professores porque agimos de um modo imaturo e rebelde. No entanto, penso que a falta de diálogo é prejudicial para ambos os lados. Porventura as pessoas mais velhas não foram também jovens? Como é que se sentiam quando os seus pais e educadores lhes negavam a possibilidade de dialogar com eles? Será que já não se lembram disso?».
São palavras de um adolescente dos nossos dias que nos devem fazer reflectir. É natural que os jovens e as pessoas mais velhas vejam a vida de um modo diferente. Aliás, o contrário é que seria profundamente estranho. A vida é como é, mas a perspectiva a partir da qual os jovens e as pessoas maduras olham para ela não é, evidentemente, a mesma. E a perspectiva é o nosso modo de focar os problemas com que nos encontramos. Custa-nos admitir que existem perspectivas diferentes da nossa e igualmente válidas. O passar dos anos — se não estamos atentos a isso — pode fazer-nos perder flexibilidade e abertura interior para procurar entender outras visões do mundo diferentes da nossa.
Todos nós, quando éramos mais jovens, olhávamos para a vida de um modo diferente. O problema é que — não se sabe por que carga de água — tendemos a esquecer-nos disto com o passar do tempo. Hoje em dia, damo-nos conta de que os nossos pais e professores tinham razão em muitas coisas que nos diziam. E que aquilo que nos comunicavam não era fruto de um autoritarismo mal entendido, mas sim da sua experiência da vida e do seu enorme carinho por cada um de nós. No entanto, há uns anos atrás, não conseguíamos perceber isto com tanta nitidez.
Termino com uma sugestão para os pais e educadores actuais: não dramatizemos assuntos sem importância. É saudável e normal que os jovens vejam a vida de um modo diferente. Podemos aprender muito com eles, ouvindo-os com um interesse genuíno. Mantenhamos o espírito aberto — sinal maravilhoso de juventude interior — e a capacidade sincera para dialogar com todos, sobretudo com os mais jovens. Assim, será muito mais fácil sabermos transmitir a “sabedoria” que acumulámos com o estudo, a reflexão e o passar dos anos, e que os jovens tanto necessitam e desejam receber.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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