É da estrutura da nova evangelização que deriva também o método adequado. Não há dúvida de que devemos usar os meios modernos de modo razoável para nos fazermos escutar; ou melhor, para tornar acessível e compreensível a voz do Senhor. Mas não queremos que nos escutem a nós; não queremos aumentar o poder e a extensão das nossas instituições; o que queremos é contribuir para o bem das pessoas e da humanidade, abrindo caminho para Aquele que é a Vida.
Essa renúncia ao próprio eu, oferecendo-o a Cristo para a salvação dos homens, é a condição fundamental de um verdadeiro compromisso em favor do Evangelho: Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo... (Jo 5, 43).
O anticristo distingue-se por falar em nome próprio. O sinal do Filho é a sua comunhão com o Pai. O Filho introduz-nos na comunhão trinitária, no círculo do seu amor, cujas Pessoas são "relações puras", acto puro de entrega e acolhimento. O desígnio trinitário, visível no Filho, que não fala em seu nome, mostra o modo de vida do verdadeiro evangelizador. Mais ainda, evangelizar não é tanto um modo de falar, é antes um modo de viver: viver na escuta do Pai e ser seu porta-voz. Não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir (Jo 16, 13), diz o Senhor do Espírito Santo.
Esta forma cristológica e pneumatológica de evangelização é ao mesmo tempo uma forma eclesiológica: o Senhor e o Espírito constroem a Igreja, comunicam-se na Igreja.
O anúncio de Cristo, o anúncio do reino de Deus, pressupõe a escuta da sua voz na voz da Igreja. "Não falar em nome próprio" significa falar na missão da Igreja.
Desta lei da renúncia ao próprio eu tiram-se consequências muito práticas. Todos os métodos racionais e moralmente aceitáveis devem ser estudados; é um dever usar das possibilidades da comunicação. Mas nem as palavras nem toda a arte da comunicação são capazes de penetrar na pessoa humana até à profundidade a que o Evangelho deve chegar. Faz poucos anos, li a biografia de um óptimo sacerdote do nosso século, o pe. Dídimo, pároco de Bassano dei Grappa. Nas suas notas, encontramos umas palavras de ouro, fruto de uma vida de oração e meditação. Por exemplo, o pe. Dídimo dizia a propósito do assunto de que tratamos aqui: "Jesus pregava de dia e orava de noite". Com essa breve anotação, queria dizer que Jesus devia ganhar de Deus os seus discípulos.
Isso é válido sempre. Nós não podemos "ganhar" os homens. Devemos "ganhá-los" de Deus para Deus. Todos os métodos são ineficazes se não estão fundados na oração. A palavra de anúncio deve estar sempre impregnada de uma intensa vida de oração.
(Cardeal Joseph Ratzinger excerto conferência pronunciada no Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e publicada no ‘L’Osservatore romano’ de 19.01.2001)
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