Antes de falar dos conteúdos fundamentais da nova evangelização, gostaria de explicar a estrutura e o método adequados. A Igreja sempre evangeliza e nunca interrompeu o seu caminho de evangelização. Celebra diariamente o mistério eucarístico, administra os sacramentos, anuncia a palavra da vida, a palavra de Deus, e compromete-se em favor da justiça e da caridade. E essa evangelização produz frutos: dá luz e alegria, mostra o caminho da vida a um imenso número de pessoas. Muitos fiéis vivem, frequentemente sem dar-se conta, da luz e do calor dessa evangelização permanente. No entanto, testemunhamos um processo gradual de descristianização e perda dos valores humanos essenciais que é realmente preocupante. Grande parte da humanidade de hoje não encontra o Evangelho na evangelização permanente da Igreja, isto é, não encontra a resposta convincente à pergunta: como viver? Por isso, precisamos, além da evangelização permanente, que nunca se interrompeu nem nunca se interromperá, de uma nova evangelização, capaz de ser ouvida por esse mundo que não tem acesso à evangelização "clássica". Todos necessitam do Evangelho. O Evangelho está destinado a todos e não apenas a um grupo determinado, e por isso devemos buscar novos caminhos para levar o Evangelho a todos.
No entanto, aqui se esconde também uma tentação: a tentação da impaciência, a tentação dos grandes números, de buscar o êxito imediato. E não é esse o método do reino de Deus. Para o reino de Deus, assim como para a evangelização, que é o instrumento e veículo [da difusão desse reino], sempre é válida a parábola do grão de mostarda (cfr. Mc 4, 31-32). O reino de Deus torna a construir-se uma e outra vez sob esse signo.
"Nova evangelização" não é sinónimo de atrair imediatamente com métodos novos e mais refinados as grandes massas que se afastaram da Igreja. Não; não é essa a promessa da nova evangelização. "Nova evangelização" significa não se contentar com o facto de o grão de mostarda se ter transformado na grande árvore da Igreja universal, nem pensar que basta o facto de nos seus ramos poderem aninhar-se aves de todo o tipo.
"Nova evangelização" significa recomeçar o trabalho valentemente, com a humildade desse minúsculo grão, deixando que Deus decida quando e como há de crescer (cfr. Mc 4, 26-29).
As grandes coisas começam sempre por um pequeno grão, ao passo que os movimentos de massas são sempre efémeros. Na sua visão do processo evolutivo, Teilhard de Chardin fala do "espaço em branco das origens": o início das novas espécies é invisível, está fora do alcance da investigação científica. As fontes estão ocultas; são pequenas demais. Noutras palavras, as grandes realidades têm começos humildes. Deixemos de lado a questão de saber se as teorias evolucionistas de Teilhard são ou não correctas, e até que ponto: a lei das origens invisíveis reflete uma verdade presente precisamente na ação de Deus na História. "Não te escolhi por seres grande; pelo contrário, és o menor dentre os povos; foste escolhido porque te amo...", diz Deus ao povo de Israel no Antigo Testamento, expressando assim o paradoxo fundamental da História da Salvação: Deus certamente não conta com grandes números; o poder exterior não é o sinal da sua presença.
Grande parte das parábolas de Jesus demonstra essa estrutura da acção divina e respondem assim às preocupações dos discípulos, que esperavam êxitos e sinais muito diferentes por parte do Messias: êxitos como aquele que Satanás oferece ao Senhor:
"Tudo isto te darei, todos os reinos do mundo"... (cfr. Mt 4, 9).
São Paulo, no final da sua vida, não tinha dúvidas de que tinha levado o Evangelho até os confins da terra, mas os cristãos eram pequenas comunidades dispersas pelo mundo, insignificantes segundo os critérios humanos. Na realidade, porém, eram o fermento que penetraria na massa, e levavam o futuro do mundo dentro de si mesmas (cfr. Mt 13, 33).
Há um antigo provérbio que diz: "O êxito não é um dos nomes de Deus". A nova evangelização deve actuar como o grão de mostarda, sem esperar que surja imediatamente uma grande árvore. Vivemos numa tranquilidade excessiva por causa da grande árvore que já existe ou sentimos o afã de possuir uma árvore ainda maior e mais viva. No entanto, devemos aceitar o mistério de que a Igreja é, ao mesmo tempo, uma árvore grande e um minúsculo grão. Na História da Salvação, vive-se sempre simultaneamente a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa.
(Cardeal Joseph Ratzinger excerto conferência pronunciada no Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e publicada no ‘L’Osservatore Romano’ de 19.01.2001)
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