Parar com as tecnologias durante o jantar em família e estabelecer um tempo livre em que não sejam utilizadas são experiências que permitem manter a relação entre pais e filhos
Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge e recentemente publicado conclui que um mínimo de regras pode conseguir que as novas tecnologias não limitem as relações familiares e que até as melhorem. Apesar de o impacto das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) sempre ter sido relacionado com uma deterioração das relações pessoais, o relatório mostra que, continuando embora a haver pequenos problemas domésticos, delas podem derivar muitos efeitos positivos, como participar em diversões comuns ou contactar com familiares que vivem longe, sempre que se respeite um horário básico para o seu uso.
As regras de utilização mais correntes e com melhores resultados consistem em desligar todos os equipamentos durante a hora do jantar, que é o momento em que mais frequentemente todos os membros da família se conseguem juntar, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, na Austrália ou na China, os quatro países onde se realizaram os inquéritos. Não consultar o correio ou prescindir de enviar mensagens de texto durante esses momentos de convívio familiar "tem habitualmente um impacto positivo em todas as famílias". Além disso, tal limitação acaba por tornar todos mais conscientes da necessidade de usarem responsavelmente os telemóveis e os videojogos. Os autores da investigação recomendam, por exemplo, que se registe e analise o uso que cada membro da família faz diariamente das TIC, para os tornar conscientes dos seus hábitos, e marcar depois algumas metas pessoais e comuns a toda a família.
A hora "em branco"
Uma das iniciativas mais surpreendentes foi proposta por 60% das famílias inquiridas no Reino Unido: estabelecer um período de tempo livre de tecnologias, durante o qual não é permitido ligar telemóveis, portáteis nem videojogos, procurando assim recuperar hábitos de relação entre pais e filhos. O relatório apoia este parecer, pois mais de um terço das famílias desta zona consideram que as tecnologias com frequência lhes interrompem as conversas e cerca de 10,5% pensam que tais obstruções são já coisa habitual em suas casas. As tréguas acordadas - aponta o relatório - "são o que mais tem ajudado as famílias, tanto quando ocorrem todas as noites como apenas durante as férias, mas todas as famílias que conscientemente o decidiram fazer sentiram um grande benefício".
Juntamente com limitações concretas, os pais são igualmente partidários de outro tipo de iniciativas tendentes a favorecer os relacionamentos. "O uso de um videojogo da Wii, por exemplo, no qual todos participam ao mesmo tempo, une-nos mais; é igualmente positivo organizar uma videochamada para membros da família que se encontrem longe ou simplesmente ver um pouco de televisão todos juntos", asseveram os entrevistados.
Medo e desconfiança
Como afirmou David Good, o psicólogo da universidade que promove a investigação, "toda e qualquer nova tecnologia sempre provocou uma espécie de medo", uma preocupação pelos efeitos do desconhecido; é por isso importante reagir e educar os filhos desde muito pequenos no uso inteligente das TIC. Segundo as conclusões do estudo, a educação é crucial, já que "à medida que crescem, os nossos filhos continuarão a usar e a mudar de tecnologias, precisando portanto de uma boa base desde muito cedo".
A última das normas recomendada pela Universidade de Cambridge é que as novas tecnologias não suprimam modos mais pessoais de comunicação, como são os contactos face a face. Na maioria dos países em que se realizou a investigação mais de metade dos entrevistados reconhecia que o recurso ao diálogo era o meio principal que usavam para comunicar com a família; mas este indicador não ultrapassava já os 50% no caso das famílias chinesas entrevistadas. É fundamental - conclui o relatório - que as TIC permitam igualmente a manutenção de um nível de relações pessoais e humanas no seio da família.
M. Ángeles Burguera
No original: * Culture, Communication and Change: Reflections on the use and impact of modern media and technology in our lives; Anna Mieczakowski, Tanya Goldhaber and John Clarkson, ed.; University of Cambridge.
Aceprensa
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