O papel de Cristo, nosso Pedagogo, é, como o nome indica, o de conduzir as crianças. Resta avaliar a que crianças quer a Escritura referir-se, e depois a dar-lhes o Pedagogo. As crianças somos nós. A Escritura celebra-nos de diferentes formas, serve-se de imagens diversas para nos designar, colorindo com muitos tons a simplicidade da fé. Diz o Evangelho que o Senhor Se apresentou na margem e Se dirigiu aos seus discípulos que tinham estado a pescar: «Rapazes, tendes algum peixe que se coma?» (Jo 21,4-5) Era aos discípulos que Ele chamava rapazes. «Apresentaram-lhe, então, umas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nos. Jesus disse-lhes: 'Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter Comigo, pois delas é o Reino do Céu.'» O próprio Senhor esclarece o sentido destas palavras dizendo: «Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino dos Céus» (Mt 18,3). Não está a falar da regeneração, mas a propor-nos que imitemos a simplicidade das crianças. [...]
Pode-se realmente considerá-los crianças, àqueles que só conhecem Deus como Pai – que são como recém-nascidos, simples e puros. [...] São seres que progrediram no Verbo, que Ele convida a desligarem-se das preocupações deste mundo, para apenas escutarem o Pai, imitando as crianças. É por isso que lhes diz: «Não vos preocupeis com o dia de amanhã. Basta a cada dia o seu trabalho» (Mt 6,34), exortando-nos a distanciarmo-nos dos problemas deste mundo, para nos dedicarmos apenas ao nosso Pai. Aquele que pratica este mandamento é um verdadeiro recém-nascido, uma criança para Deus e para o mundo, pois este considera-o como ignorando tudo e Aquele como um objecto de ternura.
São Clemente de Alexandria (150-c. 215), teólogo
O Pedagogo, I, 12, 17; SC 70
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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