
2. Entre esses atletas, refulge com luz particular "Bento, que duplamente o foi: por graça e de nome". Por especialíssimo desígnio da Providência, salientava-se nas trevas do século o santo patriarca, à hora precisa em que a situação da Igreja e dos povos atravessava uma crise profunda. O império romano, que atingira o apogeu da glória, estendendo-se, por efeito duma política justa e moderada, aos povos mais diversos, a ponto de afirmar um dos seus escritores "que melhor que império chamar-se-lhe-ia padroado da terra", como tudo que é humano, tinha declinado para o ocaso. Debilitado e corrompido por dentro, esfacelado, por fora, pelas repetidas incursões dos bárbaros que desciam do setentrião, o Ocidente afundava-se na mais completa ruína. Nesta horrível procela, cheia de perigos e destroços, donde surgiria à humanidade a esperança de auxílio, a garantia de salvar da voragem, intactas ao menos, as relíquias do seu património? Da Igreja católica. Com efeito, todos os empreendimentos e instituições, baseados unicamente no arbítrio dos homens, que reciprocamente se sucedem e engrandecem, no rodar do tempo, vêem, em virtude da própria fragilidade essencial, decair e arruinar-se. A Igreja, porém, possui, derivante do próprio fundador, a propriedade de fruir da vida divina, dum vigor incessante que lhe permite sair da luta com os homens e as coisas sempre vencedora, apta para arrancar, ainda do entulho, uma idade nova e mais feliz e reagregar os povos, com o influxo dos princípios cristãos, numa sociedade rejuvenescida.
3. Por isso, na provável ocorrência do XIV centenário da morte do santo patriarca, em que coroado de méritos e esgotado de trabalhos despendidos em prol de Deus e dos homens, venturosamente passou deste exílio da terra à pátria celeste, houvemos por bem, veneráveis irmãos, salientar, ainda que resumidamente, nesta nossa carta encíclica o momentoso papel que desempenhou na reintegração e reforma das coisas do seu tempo.
Pio XII – excerto Carta Encíclica “Fulgens Radiatur” – 21 de Março de 1947
Nota:
S. Bento foi proclamado Padroeiro da Europa pelo Papa Paulo VI na Carta Apostólica “Pacis nuntius” de 24 de Outubro de 1964
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