Certa
vez, o senhor afirmou que um homem deveria acentuar o primado da verdade sobre
a bondade. Julgo que é uma atitude que pode ser perigosa. Isso não
corresponderia à imagem do Grande Inquisidor, tal como Dostoievski a descreveu?
É preciso
interpretar todo o contexto. Nessa frase, a bondade é entendida no sentido de uma
falsa bondade, do tipo "não pretendo aborrecer-me". É uma atitude
muito comum, que se verifica também, e sobretudo, no campo da política: não se
quer ser impopular.
Em vez de ter
aborrecimentos e de os criar, prefere-se contemporizar, mesmo com o que é
errado, com o que não é puro, nem verdadeiro, nem bom. Está-se disposto a comprar
bem-estar, sucesso, reconhecimento público e aceitação por parte da opinião
dominante, à custa da renúncia à verdade. Não quis atacar a bondade em geral. A
verdade só pode ter sucesso e vencer com a bondade. Referia-me a uma caricatura
da bondade que é bastante comum: que se negligencie a consciência com o
pretexto da bondade, que se coloque acima da verdade a aceitação e a preocupação
de evitar problemas, o comodismo, o ser bem-visto.
(Cardeal
Joseph Ratzinger em entrevista à Rádio Vaticano)
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