Ao longo do
meu caminho espiritual, senti muito intensamente o problema de saber se, no
fundo, não é presunção dizer que podemos conhecer a verdade, em virtude de
todas as nossas limitações. Também me interroguei até que ponto não seria
talvez melhor pôr essa categoria em segundo plano. Ao aprofundar essa questão,
pude observar, e também compreender, que a renúncia à verdade não resolve nada:
pelo contrário, conduz à ditadura da arbitrariedade. Tudo o que resta só pode
então ser decidido por nós e é substituível. O homem perde a dignidade quando
não é capaz de conhecer a verdade, quando tudo não passa de produto de uma
decisão individual ou coletiva.
Assim, vi como
é importante que não se perca o conceito de verdade, mas permaneça como
categoria central, não obstante as ameaças e os riscos que sem dúvida envolve.
Como exigência
que nos é feita, não nos dá direitos, mas, pelo contrário, requer a nossa humildade
e a nossa obediência, como também nos pode pôr no caminho daquilo que é comum a
todos os homens. A partir de um longo confronto com a situação espiritual em que
nos encontramos, este primado da verdade foi lentamente tornando-se visível
para mim; como disse, não pode ser simplesmente entendido de forma abstracta,
mas precisa estar envolvido em sabedoria.
(Cardeal
Joseph Ratzinger em ‘O sal da terra’, pág. 55)
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