Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Novos cenários para a imprensa

Com a indústria do jornalismo em plena crise de definição, a revista Telos dedica o seu último número (Janeiro-Março de 2011) a fazer um diagnóstico da actual situação dos meios de comunicação. Alguns dos signatários do dossier ousam mesmo alvitrar algumas condições imprescindíveis para o sucesso dos novos modelos de negócio. 


"The New York Times" e Rupert Murdoch
Um dos modos de analisar a evolução de um sector consiste em examinar quais os últimos movimentos dos seus principais referentes. O catedrático da Universidade de Málaga Bernardo Díaz Nosty compara os modelos escolhidos para fazer face à presente etapa pelo gigante da imprensa americana, The New York Times, e pelo magnata inglês da imprensa, Rupert Murdoch.
"A posição do jornal nova-iorquino é assaz vantajosa do ponto de vista mediático, independentemente da sua delicada situação financeira. É o jornal de maior prestígio a nível mundial e conta com 22 dos 50 blogues de jornalistas norte-americanos mais consultados", frisa Nosty".  
A estratégia do The New York Times consiste em transformar o jornal no primeiro diário mundial, e um dos passos dados nesse sentido foi a aquisição do International Herald Tribune, que se define em cabeçalho como "edição global do The New York Times". Segundo Nosty, isso deu-lhe "atractivo suficiente para se converter em ponto de interesse das estratégias de Rupert Murdoch, que assume como princípios da mudança no modelo deste negócio da imprensa a sua internacionalização ou globalização, o emprego de soluções tecnológicas invisíveis aos motores de busca e o pagamento pela informação consumida".
Apesar de o objectivo perseguido ser o mesmo, as estratégias variam. Nosty lembra que a política de Murdoch consiste em acabar completamente com as edições digitais grátis, enquanto o The New York Times propõe fórmulas mais flexíveis, que não tornem totalmente opaca aos motores de busca a edição online, e anunciou que irá implementar modalidades de pagamento para o consumo de qualidade ao longo de 2011. 
Proposta de um modelo sustentável 
A direcção tomada pelos principais grupos mediáticos aponta para que o modelo de negócio baseado no fornecimento de conteúdos totalmente grátis - e consequentemente na publicidade como principal fonte de ingressos - não irá longe. Mas ninguém soube ainda encontrar o modelo de pagamento adequado para se conseguir rentabilidade e assim tornar viável a publicação. 
"Fernando Gallardo Olmedo, professor da Universidade Autónoma de Madrid, analisa três aspectos - fundamentais, do seu ponto de vista - que permitiriam à imprensa encontrar o tão desejado modelo de negócio sustentável".
Gerar e explorar valor reputacional: As páginas web dos jornais mais importantes são as mais visitadas. Os leitores têm em conta a linha editorial, mas estão dispostos a consultar publicações não coincidentes com ela, sempre e quando esses meios possuírem valor reputacional.
Gerar e explorar economias de tamanho: podem ser "de escala" (quanto mais leitores digitais um jornal tiver menor é o custo unitário), ou "de alcance" (usar, dentro de um grupo mediático, a estratégia de partilha de custos intelectuais e criar sinergias entre diversos meios de comunicação).
Segmentar clientes e diferenciar o produto: Estudar quem lê e que notícias lê e distinguir entre as informações mais procuradas mas de menor valor acrescentado (porque a maioria das publicações também as oferecem) e as de maior valor acrescentado (análise, opinião, etc.), habitualmente menos procuradas mas pelas quais alguns leitores estão dispostos a pagar.
O modelo baseado na publicidade funciona apenas para aquelas notícias em que os ingressos da publicidade superam os custos. É uma opção que se pode utilizar para financiar todas as notícias - é o que faz a maior parte dos jornais - mas não é rentável para o sector nem sustentável para manter um conjunto de notícias de grande valor acrescentado, de bastante mais reduzida procura e fonte geradora de valor reputacional.
O Google e o custo da banda larga
A indústria do jornalismo tem nestes últimos anos debatido a conveniência de permitir aos agregadores electrónicos agregar a informação. "O Google - considera Gallardo - redirecciona os leitores para os jornais e, se as notícias são pagas, pode-lhes mesmo gerar ingressos". A grande queixa das publicações exprime-a o magnata Rupert Murdoch, que reprova ao motor de busca gerar ingressos próprios ostensivamente mais elevados que os que vão encher os cofres dos jornais.
Gallardo lembra que muitos destes problemas são em Espanha consequência do elevado custo da banda larga fixa. No caso da imprensa digital, se o usuário tivesse de pagar para aceder aos conteúdos, ler os jornais teria para ele vários custos: o custo do conteúdo, o custo do computador e o custo da banda larga, se bem que os dois últimos sejam também usados para outras actividades. 
"Um modelo mais transparente teria um acesso à banda larga sensivelmente mais reduzido e os fornecedores de conteúdo pagariam também por usar a rede, graças à qual o produto chega ao usuário". É evidente que outras empresas, cujo negócio se baseia no uso de redes (o caso mais notório é o do Google) teriam de pagar igualmente a sua quota.
O jornalismo como bem social
Na Europa, as editoriais associadas na European Newspaper Publishers Association (ENPA) estão a tentar coordenar uma política comum sobre a imprensa, tendo por objectivo conseguir uma remuneração adequada pelos conteúdos redactoriais, a começar por negociações com o Google. Num artigo sobre a metamorfose da imprensa, José Manuel Burgueño, professor da Universidade Antonio de la Nebrija, lembra que o problema das publicações com os agregadores electrónicos ultrapassa a simples partilha dos ingressos gerados. "Se o acesso dos utilizadores à informação passa por um agregador, o jornal deixa de ser uma publicação de cabeceira, a fonte principal e primordial dos seus leitores, para se converter numa opção, numa ligação possível, e isso sim, aparece nos primeiros lugares do motor de busca". 
Existe ainda uma outra saída da crise, diferente de conseguir efectuar um negócio rentável para a indústria do jornalismo. Burgueño refere algumas sugestões segundo as quais o jornalismo deverá ser oficialmente declarado um bem público e os governos deverão contribuir para o salvar concedendo-lhe apoios.
Tal possibilidade provoca reticências entre os profissionais, que correm o risco de perder a sua independência, salvo se se tratasse de apoios indirectos, como uma fiscalidade favorável que, independentemente dos conteúdos, a todos beneficiasse por igual.
Segundo Burgueño, há quem coloque a esperança da indústria na total renúncia em procurar benefícios. É o caso do senador americano Benjamin Cardin, que propôs a transferência dos jornais locais para fundações que desfrutem de amplas isenções fiscais. 
Aquilo por que os leitores estarão dispostos a pagar 
Existe nesta indústria um certo consenso sobre o futuro do modelo de pagamento, se bem que mais a longo que a curto prazo. De acordo com um estudo realizado em 2009 pela Accenture, cerca de 60% dos executivos desta indústria aposta na publicidade como suporte económico nos próximos anos. Cerca de 22% crê que os modelos de pagamento dominarão o cenário dos média dentro de três anos e 10% confia na combinação de serviços gratuitos e serviços pagos, orientando-se para estratégias freemium (90% tem acesso à informação gratuita graças ao dinheiro que 10% paga pela informação Premium). 
Burgueño crê que só falta identificar aquilo por que o cidadão está disposto a pagar. Para o professor de Comunicação da Universidade de Navarra Alfonso Sánchez-Tabernero "os dados, os factos, as cotações da Bolsa, tudo quanto posso procurar no Google não tem interesse. O que interessa é a análise, a interpretação, a opinião, a criatividade ou a previsão. A imprensa vai basear-se mais no talento que na quantidade".
Em sintonia com esta opinião, a jornalista Magis Iglesia vai buscar o exemplo do semanário alemão Die Zeit, cujas declarações numa entrevista do El País em Outubro de 2010 chamaram a atenção do sector. O director do semanário Giovanni di Lorenzo explicava como esta publicação tinha alcançado os seus maiores êxitos nos últimos anos (bem no meio da crise), tanto em tiragem como em benefícios. "O nosso truque foi estudar em pormenor as necessidades dos leitores, ignorar todos os conselhos dos assessores de imprensa e continuar a elaborar longos artigos documentados, sérios e até mesmo difíceis". De acordo com di Lorenzo, o futuro do jornalismo passa por fazer dele um jornalismo "de orientação" e "de aprofundamento". "A Internet é uma das causas da crise do papel impresso, mas existem outras também de vulto, como a falta de credibilidade e o descuido na qualidade". 
Configuração das novas redacções 
Um tema delicado que os meios de comunicação tiveram de enfrentar foi a nova configuração das redacções. Se um dos problemas a que o jornalismo deve pôr fim é o decréscimo de qualidade, é necessário estabelecer severos mecanismos de controlo para fazer face ao factor de insegurança representado pela pressa na praxis actual. Os média vêem-se perante um paradoxo, porque precisam de profissionais com experiência para desempenhar este papel, mas é esse precisamente o perfil que mais sofreu com os recentes processos de regulação de emprego provocados pela crise e com a evolução das tecnologias. 
Por outro lado, ao mesmo tempo que as redacções dos jornais impressos se transformaram em redacções multimédia, surgiram nos últimos anos novos tipos de redacção, estimulados pelos novos média. É o caso da Demotix, que supre a falta de correspondentes estrangeiros dos diferentes média com jornalistas amadores; a Spot US1, uma página baseada em crowdfunding, em que jornalistas freelance propõem temas de investigação que só serão desenvolvidos caso se obtenha o necessário financiamento. The New York Times chegou a comprar alguns - possibilitando assim o reembolso dos donativos - e também aceitou um ou outro artigo grátis da ProPublica, uma fundação filantrópica que na Internet se dedica ao jornalismo de investigação.
No intento de vincular notícias a redes sociais e blogues, Burgueño não se esquece de mencionar o caso do The Huffington Post, um diário digital com êxito extraordinário nos Estados Unidos, superando em visitas o The Washington Post e o Los Angeles Times, e que foi recentemente adquirido pela AOL. Mediante uma extensa rede de blogues e um agregador de conteúdos alheios, converteu-se no média de referência para milhões de norte-americanos. O outro grande referente de política nos Estados Unidos é Político, que conta com seis milhões de usuários únicos mensais e se encontra entre os vinte sites de notícias de maior movimento do país. Curiosamente, este meio conta de segunda a quinta-feira com uma rentável edição em papel, distribuindo cerca de 50.000 exemplares. 
Aceprensa

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