Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Comentário do Cântico dos Cânticos, II, 9
A esposa do Cântico dos Cânticos diz: «o meu nardo dá o seu perfume» (1,12) [...]; mas podemos ler também «o Seu perfume». [...] A esposa aproximou-se do Esposo, ungiu-O com os seus unguentos e, surpreendentemente, foi como se o nardo não tivesse dado perfume enquanto estava nas mãos da esposa, mas o desse ao entrar em contacto com o corpo do Esposo — de sorte que, segundo parece, não foi tanto Ele que recebeu o perfume do nardo mas foi antes o nardo que o recebeu, como se viesse d'Ele. [...]
Apresentamos aqui a esposa Igreja, na pessoa de Maria: diz-se que ela trazia uma libra de nardo de alto preço e que ungiu os pés de Jesus, enxugando-os depois com os cabelos e que, de certo modo, também ela recebeu, através dos cabelos, um perfume impregnado da qualidade e do poder do corpo de Jesus. [...] Ela impregnou a cabeça com um perfume requintado que vinha mais de Cristo que do nardo e disse [com a esposa]: «O meu nardo, derramado no corpo de Cristo, deu-me em troca o Seu aroma». [...]
«A casa encheu-se com a fragrância do perfume.» Isso indica, seguramente, que a fragrância da doutrina que vem de Cristo e o agradável perfume do Espírito Santo encheram toda a casa deste mundo, ou a casa de toda a Igreja. Ou, pelo menos, encheram toda a casa através desta alma que recebeu a fragrância de Cristo, tendo-Lhe oferecido inicialmente o dom da sua fé como nardo puro, e recebendo, em retribuição, a graça do Espírito Santo e o agradável perfume da doutrina espiritual [...], para que também ela pudesse dizer: «Somos para Deus o bom odor de Cristo» (2Co 2,15). Ora, porque esse nardo foi cheio de fé e dum amor de grande valor, Jesus presta-lhe esta homenagem: «Praticou em Mim uma boa acção!» (Mc 14,6).
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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