O Senhor
dirige-nos estas palavras maravilhosas: Já não vos
chamo servos... mas chamei-vos amigos (Jo 15, 15).
Quantas vezes não sentimos que somos - e é verdade - apenas servos inúteis! (cfr. Lc 17, 10). E, apesar disso, o Senhor chama-nos
amigos, faz-nos seus amigos, dá-nos a sua amizade. O Senhor define a amizade
de uma dupla maneira.
[A primeira é
que] não existem segredos entre amigos: Cristo diz-nos tudo quanto escuta do
Pai; dá-nos toda a sua confiança e, com a confiança, também o conhecimento.
Revela-nos o
seu rosto, o seu coração. Mostra-nos a sua ternura por nós, o seu amor apaixonado
que vai até à loucura da Cruz. Confia-se a nós, dá-nos o poder de falar com o
seu Eu: Isto é
o meu Corpo..., Eu te absolvo... Confia-nos o seu Corpo místico, a Igreja. Confia às
nossas fracas mentes, às nossas fracas mãos, a sua Verdade - o mistério de Deus
Pai, Filho e Espírito Santo; o mistério de Deus que tanto
amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito (Jo 3, 16). Fez de nós seus amigos [...].
O segundo
elemento com que Jesus define a amizade é a comunhão das vontades. Idem velle
- idem nolle [querer o mesmo, não querer o mesmo, isto é, ter os
mesmos gostos e repulsas], era também para os romanos a definição da amizade. Vós
sereis meus amigos, se fizerdes o que vos mando (Jo 15, 14). A amizade com Cristo
coincide com aquilo que o terceiro pedido do Pai-Nosso exprime: Seja
feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu. Na hora do Getsemani, Jesus transformou a nossa
vontade humana rebelde em vontade conforme e unida à vontade divina. Sofreu
todo o drama da nossa autonomia - e é exatamente pondo a nossa vontade nas mãos
de Deus, que nos dá a verdadeira liberdade: Não se faça
como eu quero, mas como Tu queres (Mt 26, 39).
Nessa comunhão
das vontades, realiza-se a nossa Redenção: sermos amigos de Jesus, tornarmo-nos
amigos de Deus. Quanto mais amamos Jesus, tanto mais o conhecemos, tanto mais
cresce a nossa verdadeira liberdade, cresce a alegria de sermos redimidos.
Obrigado,
Jesus, pela tua amizade!
(Cardeal Joseph Ratzinger em Homilia
da Missa Pro
Eligendo Pontífice, Vaticano, 18.04.2005)
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