A 17 de Março de 1861, há um século e meio, a proclamação da unidade italiana era um momento simbolicamente fundamental de uma história mais do que milenária num país ligado de modo deveras singular ao cristianismo. A tal ponto que a sua fisionomia e identidade - como mais em geral as do continente europeu - não seriam compreensíveis, a nível histórico e sob um ponto de vista espiritual, se não se tivessem em conta estas indubitáveis e profundas características que, com outras diversas, representam as suas raízes.
Em síntese, sem a tradição cristã, e em particular sem a tradição católica e sem o papado a Itália não seria aquilo que foi e aquilo que é hoje. Um país com um passado importante - sob muitos aspectos inigualável e exemplar, não obstante as sombras e as misérias, inevitáveis como em cada vicissitude humana - e que merece um futuro à altura dos momentos mais nobres da sua história.
Reconhecido e apreciado nas suas características inconfundíveis, não obstante acontecimentos atormentados e dolorosos, no concerto internacional.
Hoje na Itália a unidade nacional é celebrada com sentimentos diversos: orgulho justificado, reticências infundadas, mas sobretudo preocupações urgentes devido a uma crise que tem muitos aspectos no país. Num cenário global marcado por acontecimentos arrasadores em diversas partes do mundo, do Japão ao Médio Oriente chegando aos países africanos. Nas celebrações, de uma unidade que se constituiu de facto contra o papado e o seu poder temporal, a Igreja católica participa hoje com uma adesão certamente não formal. Confirma isto a mensagem do Papa que o seu secretário de Estado, com um gesto sem precedentes, entregou ao Presidente italiano no Quirinal, a colina que olha para o Vaticano. É um gesto que expressa vontade de colaboração verdadeira ao serviço do bem de todos. Na linha ininterrupta de uma tradição espiritual e cultural única no mundo, transformando-se nos últimos séculos e nos últimos decénios numa história pela unidade real e profunda do país, uma unidade para a qual muitíssimos católicos - mulheres e homens muitas vezes exemplos vivos de santidade - contribuíram com uma presença múltipla e vivaz. Fundada na caridade radical de Cristo que veio para salvar todos os seres humanos e revelar-lhes o rosto de Deus.
GIOVANNI MARIA VIAN - Director
(© L'Osservatore Romano - 19 de Março de 2011)
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