Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal


SINCERIDADE E VERACIDADE
– O “demónio mudo”. Necessidade da sinceridade.
– Amor à verdade. Sinceridade em primeiro lugar connosco próprios. Sinceridade com Deus. Sinceridade na direcção espiritual e na confissão. Meios para adquirir esta virtude.
– Sinceridade e veracidade com os outros. A palavra do cristão. A lealdade e a fidelidade, virtudes relacionadas com a veracidade. Outras consequências do amor à verdade.


I. O EVANGELHO DA MISSA diz-nos que Jesus estava expulsando um demónio que era mudo, e, mal o demónio saiu, o mudo se pôs a falar e a multidão ficou admirada1.
A doença, um mal físico normalmente sem relação alguma com o pecado, é um símbolo do estado em que se encontra o homem pecador; espiritualmente, é cego, surdo, paralítico... As curas que Jesus realiza, além do fato concreto e histórico da cura, são também um símbolo: representam a cura espiritual que Ele veio realizar nos homens. Muitos dos gestos de Jesus para com os doentes são como que uma imagem dos sacramentos.
A propósito do relato evangélico que se lê na Missa, São João Crisóstomo comenta que o homem em questão “não podia apresentar por si mesmo a sua súplica, pois era mudo; e também não podia pedir aos outros que a apresentassem por ele, pois o demónio, juntamente com a língua, tinha-lhe atado a alma”2. O demónio trazia-o bem aprisionado.
Quando, na oração pessoal, não falamos ao Senhor sobre as nossas misérias e não lhe suplicamos que as cure, ou quando não expomos essas nossas misérias na direcção espiritual, quando ficamos calados porque a soberba fechou os nossos lábios, a doença torna-se praticamente incurável. Calar os danos sofridos pela alma é uma atitude que costuma fazer-se acompanhar pela surdez; a alma torna-se surda aos apelos de Deus, rejeita os argumentos e razões que lhe poderiam dar luz para retornar ao bom caminho. Pelo contrário, ser-lhe-á fácil abrir com sinceridade o coração se procurar viver este conselho: “Não te assustes ao notares o lastro do pobre corpo e das humanas paixões: seria tolo e ingenuamente pueril que descobrisses agora que «isso» existe. A tua miséria não é obstáculo, mas acicate para que te unas mais a Deus, para que o procures com constância, porque Ele nos purifica”3.
Ao dizermos hoje, no salmo responsorial da Missa: Oxalá escuteis hoje a sua voz: não endureçais o vosso coração4, formulemos o propósito de não resistir à graça, sendo sempre muito sinceros.
II. PARA VIVERMOS UMA VIDA autenticamente humana, temos de amar muito a verdade, que é, de certo modo, um valor sagrado e requer, portanto, que seja tratada com respeito e amor. A verdade fica às vezes tão obscurecida pelo pecado, pelas paixões e pelo materialismo que, se não a amássemos, não nos seria possível reconhecê-la. É tão fácil aceitar a mentira quando vem em ajuda da preguiça, da vaidade, da sensualidade, do falso prestígio!
O Senhor ama tanto esta virtude que declarou a respeito de si mesmo: Eu sou a Verdade5. O demónio é mentiroso e pai da mentira6: tudo o que promete é falso. Jesus pedirá ao Pai para os seus, para nós, que sejamos santificados na verdade7.
Hoje fala-se muito de sermos sinceros, autênticos; não obstante, os homens tendem a ocultar-se no anonimato e, com frequência, disfarçam os verdadeiros motivos dos seus actos diante de si próprios e dos outros. Tentam também passar anonimamente diante de Deus e recusam o encontro pessoal com Ele na oração e no exame de consciência. E, no entanto, não poderemos ser bons cristãos se não houver sinceridade connosco próprios, com Deus e com os outros.
A sinceridade connosco próprios leva-nos a reconhecer as nossas faltas sem dissimulá-las, sem procurar falsas justificações; faz-nos estar sempre alerta diante da tentação de “fabricar” a verdade, de pretender que seja verdade aquilo que nos convém, como é o caso daqueles que pretendem enganar-se a si próprios dizendo que, “para eles”, não é pecado isto ou aquilo que é proibido pela Lei de Deus. O subjectivismo, as paixões e a tibieza podem contribuir para a insinceridade connosco próprios. A pessoa que não vive essa sinceridade radical deforma com facilidade a sua consciência e chega à cegueira interior a respeito das coisas de Deus.
Outro modo frequente de nos enganarmos é não querer chegar às consequências da verdade para não ter que enfrentá-las ou para não dizer toda a verdade: “Nunca queres esgotar a verdade. – Umas vezes, por correcção. Outras – a maioria –, para não passares um mau bocado. Algumas, para evitá-lo aos outros. E, sempre, por covardia. – Assim, com esse medo de aprofundar, jamais serás homem de critério”8.
Para sermos sinceros, o primeiro meio que temos de empregar é a oração: pedir ao Senhor que nos ajude a ver os erros, os defeitos do carácter..., que nos dê fortaleza para reconhecê-los como tais, e valentia para pedir ajuda e lutar. Em segundo lugar, o exame de consciência diário, breve mas eficaz, para nos conhecermos. Depois, a direcção espiritual e a Confissão, abrindo de verdade a alma, dizendo toda a verdade, com desejos de que conheçam a nossa intimidade para que nos possam ajudar no nosso caminho para Deus. “Não permitais que se aninhe na vossa alma um foco de podridão, por muito pequeno que seja. Falai. Quando a água corre, é límpida; quando se estanca, forma um charco cheio de porcaria repugnante, e de água potável converte-se em caldo de bichos”9. Com frequência, dizer em primeiro lugar aquilo que mais nos custa é um propósito que nos ajudará a ser sinceros.
Se afastarmos esse demónio mudo com a ajuda da graça, verificaremos que um dos frutos imediatos da sinceridade é a alegria e a paz da alma. Por isso pedimos a Deus essa virtude, para nós e para os outros.
III. SINCEROS COM DEUS, connosco próprios e com os outros.
Se não o formos com Deus, não poderemos amá-lo nem servi-lo; se não o formos connosco próprios, não poderemos ter uma consciência bem formada, que ame o bem e rejeite o mal; se não o formos com os outros, a convivência tornar-se-á impossível e não agradaremos a Deus.
Os que nos rodeiam devem saber que somos pessoas verazes, que nunca mentem ou enganam. A nossa palavra de cristãos e de homens e mulheres honrados deve ter um grande valor diante dos outros: Dizei “sim” se for sim; “não” se for não, pois tudo o que passa disso vem do Maligno10. O Senhor quer realçar a palavra do homem de bem que se sente comprometido pelo que diz.
O amor à verdade deve levar-nos a rectificar, se nos enganamos. “Acostuma-te a não mentir nunca de maneira consciente, nem para te desculpares nem por outro motivo qualquer, e para isso, lembra-te de que Deus é o Deus da verdade. Se por acaso faltas à verdade por um erro, rectifica-o imediatamente, se podes, com alguma explicação ou reparação; fá-lo assim, pois uma verdadeira explicação tem mais graça e força para desculpar do que a mentira”11.
Outra virtude relacionada com a veracidade e a sinceridade é a lealdade, que é a veracidade na conduta: manter a palavra dada, as promessas, os acordos. Os nossos amigos e as pessoas com quem nos relacionamos devem conhecer-nos como homens e mulheres leais. A fidelidade é a lealdade a um compromisso estrito que se contrai com Deus ou diante d’Ele. Jesus Cristo foi conhecido como aquele que é fiel e veraz12. E a Sagrada Escritura fala constantemente de Deus como Aquele que é fiel ao pacto com o seu povo, Aquele que cumpre com fidelidade o plano de salvação que prometeu13. A deslealdade é sempre uma fraude, ao passo que a lealdade é uma virtude indispensável na vida pessoal e na vida social. É sobre ela que assentam, por exemplo, a vida conjugal, o cumprimento dos contratos, a actuação dos governantes...
O amor à verdade há de levar-nos também a não fazer juízos precipitados, baseados numa informação superficial sobre as pessoas ou os fatos. É necessário ter um sadio espírito crítico em relação às notícias divulgadas pelo rádio, televisão, jornais ou revistas, que muitas vezes são tendenciosas ou simplesmente incompletas. Com frequência, os fatos objectivos aparecem envoltos em opiniões ou interpretações que podem dar uma visão deformada da realidade. Devemos ter um cuidado extremo com as notícias que se referem directa ou indirectamente à Igreja. Por amor à verdade, devemos pôr de parte os canais informativos sectários que turvam as águas, e procurar uma informação objectiva, veraz e criteriosa, ao mesmo tempo que contribuímos para a recta informação dos outros. Então se tornará realidade a promessa de Jesus: A verdade vos fará livres14.
(1) Lc 11, 14; Mt 9, 32-33; (2) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Evangelhos, 32, 1; (3) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 134; (4) Sl 94; (5) Jo 14, 6; (6) Jo 8, 44; (7) cfr. Jo 17, 17 e segs.; (8) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 33; (9) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 181; (10) Mt 5, 37; (11) São Francisco de Sales, Intr. à vida devota, III, 30; (12) Apoc 19, 11; (13) cfr. Rom 3, 7; (14) Jo 8, 32.


(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal)

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