Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

COM O OLHAR LIMPO
– A guarda da vista.
– No meio do mundo, sem ser mundanos.
– Um cristão não vai a lugares ou espectáculos que desdigam da sua condição de discípulo de Cristo.


I. JESUS CHEGOU A BETSAIDA com os seus discípulos, e logo lhe levaram um cego para que o tocasse. O Senhor tomou o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e ali fez lodo com saliva e aplicou-o nos seus olhos; a seguir, impôs-lhe as mãos e perguntou-lhe se via alguma coisa. O cego, levantando os olhos, disse: Vejo os homens como se fossem árvores que andam. O Senhor voltou a impor-lhe as mãos sobre os olhos e então o cego começou a ver, de modo que distinguia bem e claramente todas as coisas1.
As curas do Senhor costumavam ser instantâneas. Esta, porém, seguiu um pequeno processo, talvez porque a fé do cego no começo fosse fraca e Jesus quisesse curar-lhe ao mesmo tempo a alma e o corpo2: ajudou esse homem, a quem tomou pela mão com tanta piedade, para que a sua fé se fortalecesse. Passar de não ter nenhuma luz a ver confusamente já era alguma coisa, mas o Mestre queria dar-lhe uma visão nítida e penetrante para que pudesse contemplar as maravilhas da criação. Muito provavelmente, a primeira coisa que o cego viu foi o rosto de Jesus, que olhava para ele comprazido.
O que aconteceu a este homem cego em relação às coisas materiais pode servir-nos para considerar a cegueira espiritual. Frequentemente, encontramos muitos cegos espirituais que não vêem o essencial: o rosto de Cristo, presente na vida do mundo. O Senhor referiu-se muitas vezes a este tipo de cegueira, por exemplo quando dizia aos fariseus que eram cegos3, ou quando aludia àqueles que têm os olhos abertos mas não vêem4.
É um grande dom de Deus manter o olhar limpo para o bem, ver o Senhor no meio dos afazeres diários, encarar os homens como filhos de Deus, penetrar no que realmente vale a pena..., e mesmo contemplar junto de Deus e com os olhos de Deus a beleza divina que Ele deixou como um rasto nas obras da criação. Por outro lado, é necessário ter o olhar limpo para que o coração possa amar, para mantê-lo jovem, como Deus deseja.
Muitos homens não estão inteiramente cegos, mas têm uma fé muito fraca e um olhar apagado para o bem. Esses cristãos mal reparam no valor da presença de Cristo na Sagrada Eucaristia, no imenso bem do sacramento da Penitência, no valor infinito de uma única Missa, na presença a seu lado do Anjo da Guarda, na beleza do celibato apostólico... Falta-lhes limpeza de alma e uma maior vigilância na guarda dos sentidos – que são como as portas da alma –, e de modo particular da vista.
Todo aquele que começa a ter vida interior aprecia o tesouro que traz no coração e procura evitar com o maior esmero a entrada na alma de imagens que impossibilitem ou dificultem o seu relacionamento com Deus. Não se trata de “não ver” – porque precisamos da vista para andar pela rua, para trabalhar, para nos relacionarmos –, mas de “não reparar” naquilo em que não se deve reparar, de sermos limpos de coração, de vivermos com naturalidade o necessário recolhimento dos sentidos. E isto no ambiente em que estamos, nas relações sociais, ao irmos de um lado para outro. A lâmpada do corpo é o olho. Se o teu olho for simples, todo o teu corpo estará iluminado. Mas se o teu olho for malicioso, todo o teu corpo estará em trevas5.
Seria uma pena se alguma vez – por não termos sido delicadamente fiéis nesta matéria –, ao invés de vermos o rosto de Cristo com toda a nitidez, divisássemos apenas uma imagem esfumada e longínqua da sua figura! Examinemos hoje na nossa oração como vivemos essa “guarda da vista”, tão necessária para a vida sobrenatural, isto é, para ver a Deus, persuadidos de que, se não se tem esse olhar limpo, a visão torna-se confusa e disforme.
II. O CRISTÃO DEVE SABER ficar a salvo dessa grande onda de consumismo e de sensualidade que parece querer arrasar tudo. Não temos medo do mundo, porque nele recebemos a nossa chamada para a santidade, nem podemos desertar dele, porque o Senhor nos quer como fermento na massa; nós, os cristãos, “somos uma injecção intravenosa na corrente circulatória da sociedade”6.
Mas estar no meio do mundo não significa sermos frívolos e mundanos: Não te peço que os tires do mundo – pediu Jesus ao Pai –, mas que os livres do mal7. E os Apóstolos alertaram aqueles que se convertiam à fé para que vivessem a doutrina e a moral de Cristo precisamente num ambiente pagão muito parecido ao que nos rodeia nestes tempos8. Se alguém não se precavesse de uma maneira decidida, seria arrastado por esse clima de materialismo e de permissivismo. Mesmo em países de profunda tradição cristã, salta aos olhos como se têm difundido maneiras de viver e de pensar em clara oposição às exigências morais da fé cristã e até da própria lei natural.
Os propagadores do novo paganismo encontraram um aliado eficaz nessas diversões de massa que exercem uma grande influência no ânimo dos espectadores. Nos últimos anos, têm proliferado cada vez mais esses espectáculos que, sob os mais diversos pretextos ou sem pretexto algum, fomentam a concupiscência e um estado interior de impureza que dá lugar a muitos pecados internos e externos contra a castidade. A uma alma que vivesse nesse clima sensual, ser-lhe-ia impossível seguir o Senhor de perto..., e talvez nem sequer de longe.
Os Santos Padres utilizaram na sua pregação palavras duras para afastar os cristãos dos primeiros séculos dos espectáculos e diversões imorais9. E aqueles fiéis souberam prescindir – porque assim o pediam os novos ideais que haviam encontrado ao conhecerem a Cristo – das diversões que podiam desdizer das suas ânsias de santidade ou pôr em perigo a sua alma, a tal ponto que não raramente os pagãos se apercebiam da conversão de um amigo, de um parente ou de um vizinho porque deixava de assistir a esses espetáculos10, pouco coerentes ou totalmente opostos à delicadeza de consciência de uma pessoa que na sua vida encontrou a Cristo.
Sabemos nós fazer o mesmo? Sabemos cortar com diversões ou deixar de frequentar lugares que desdizem de um cristão? Cuidamos da fé e da santa pureza dos filhos, dos irmãos mais novos, quando, por exemplo, um programa ou um seriado de televisão é inconveniente? Peçamos ao Senhor uma consciência delicada para afastarmos com firmeza, sem contemplações, tudo o que nos pode separar dEle ou esfriar o nosso propósito de segui-lo.
III. O CRISTIANISMO NÃO MUDOU: Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre11, e pede-nos a mesma fidelidade, fortaleza e exemplaridade que pedia aos primeiros discípulos. Nos nossos dias, também devemos navegar contra a corrente muitas vezes, ainda que os nossos amigos não nos entendam num primeiro momento, pois, além do mais, isso será frequentemente um primeiro passo para que se aproximem de Deus e se decidam a viver uma profunda vida cristã.
A nossa lealdade para com Deus deve levar-nos a evitar as ocasiões de perigo para a alma. Por isso, antes de ligarmos a televisão ou de irmos a um espectáculo, devemos ter a certeza de que não serão ocasião de pecado. Na dúvida, devemos prescindir desses entretenimentos, e se, por estarmos mal informados, assistimos a um espectáculo que não condiz com a moral, lembremo-nos de que a atitude de todo o bom cristão é levantar-se e ir-se embora: Se o teu olho direito te escandaliza, arranca-o e atira-o para longe de ti12. Não assistir ou irmo-nos embora, é isso o que devemos fazer, sem medo de “parecermos estranhos” ou pouco naturais, pois o pouco natural em quem segue a Cristo é justamente o contrário.
Para vivermos como verdadeiros cristãos, devemos pedir ao Senhor a virtude da fortaleza, a fim de não transigirmos connosco próprios e sabermos falar com clareza aos outros sem medo do que poderão dizer, ainda que pareça que não vão entender as explicações que lhes dermos. As nossas palavras, acompanhadas pelo exemplo e por uma atitude cheia de segurança e de alegria, ajudá-los-ão a compreender e a procurar uma vida mais firme, princípios mais sólidos.
E se alguém afirma que essas diversões não lhe fazem mal algum, poderemos recordar-lhe que, de um modo imperceptível, se vai criando na alma uma crosta que impede o trato com Deus e a delicadeza e o respeito que todo o amor humano verdadeiro exige. Quando alguém diz que frequentar esses lugares ou ver esses programas não passa para ele de um divertimento inofensivo, talvez seja esse precisamente o sinal de que necessita mais do que os outros de se abster deles. Possivelmente, já tem a alma endurecida e os olhos obnubilados para o bem.
Os cristãos, além de não assistirem a esses programas, de não contribuírem para eles nem com a mais pequena moeda, e de se esforçarem, cada um na medida das suas possibilidades, por impedi-los, devem contribuir positivamente para que haja espectáculos e diversões sadias e limpas, que sirvam para descansar do trabalho, para manter e fomentar o relacionamento, para cultivar o espírito de forma amena, etc.
São José, fiel à sua vocação de protector de Jesus e de Maria, amou-os com amor puríssimo. Peçamos-lhe hoje que nos ajude a saber empregar com fortaleza os meios necessários para podermos contemplar a Deus com um olhar límpido e puro.
(1) Cfr. Mc 8, 22-26; (2) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, nota a Mc 8, 22-26; (3) Mt 15, 14; (4) cfr. Mc 4, 12; Jo 9, 39; (5) Mt 6, 22-23; (6) São Josemaría Escrivá, Carta, 19-III-1934; (7) Jo 17, 15; (8) cfr. Rom 13, 12-14; (9) cfr. São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 6, 7; (10) cfr. Tertuliano, Sobre os espetáculos, 24; (11) cfr. Hebr 13, 8; (12) Mt 5, 29.


(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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