Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

O CAMINHO DAS BEM-AVENTURANÇAS
– As bem-aventuranças, caminho de santidade e de felicidade.
– A nossa felicidade vem de Deus.
– Não perderemos a alegria se em tudo procurarmos a Deus.


I. UMA IMENSA MULTIDÃO vinda de todos os lugares rodeia o Senhor. Esperam d’Ele a sua doutrina salvadora, que dará sentido às suas vidas. Vendo Jesus a multidão, subiu a um monte onde se sentou; e, tendo-se aproximado d’Ele os seus discípulos, abrindo a boca, ensinava-lhes1.
É esta a ocasião que Jesus aproveita para traçar uma imagem profunda do verdadeiro discípulo: Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram...
Não é difícil imaginar a impressão – talvez de desconcerto, ou mesmo de decepção – que estas palavras devem ter causado nos que o escutavam. Jesus acabava de formular o espírito novo que viera trazer à terra; um espírito que significava uma revolução completa nos juízos de valor habituais na sociedade, como os dos fariseus, que viam na felicidade terrena a bênção e o prémio de Deus, e, na infelicidade e na desgraça, o castigo2. Em geral, “o homem antigo, mesmo no povo de Israel, procurava a riqueza, o gozo, a estima, o poder, e considerava tudo isso como a fonte de toda a felicidade. Jesus rasga um caminho diferente. Exalta e abençoa a pobreza, a doçura, a misericórdia, a pureza e a humildade”3.
Ao tornarmos a meditar agora nestas palavras do Senhor, vemos que ainda hoje se instala nas pessoas o desconcerto perante esse contraste entre a tribulação que o caminho das Bem-aventuranças traz consigo e a felicidade que Jesus promete. “O pensamento fundamental que Jesus queria inculcar nos ouvintes era este: só o servir a Deus torna o homem feliz. No meio da pobreza, da dor, do abandono, o verdadeiro servo de Deus pode dizer, como dizia São Paulo: Superabundo de gozo em todas as minhas tribulações. E, pelo contrário, um homem pode ser infinitamente desgraçado embora nade em opulência e viva na posse de todos os gozos da terra”4. Não é em vão que o Evangelho de São Lucas refere depois das Bem-aventuranças aquelas exclamações do Senhor: Ai de vós, os que vos saciais agora [...]. Ai de vós, todos os que sois aplaudidos pelos homens, porque assim fizeram os pais deles com os falsos profetas!5
Quem escutava o Senhor entendeu bem que aquelas Bem-aventuranças não se referiam a certas classes de pessoas, não prometiam a salvação a determinados grupos da sociedade, mas indicavam de forma inequívoca as disposições religiosas e a conduta moral que Jesus exige de todo aquele que queira segui-lo. “Ou seja, a referência aos pobres em espírito, aos mansos, aos que choram [...] não aponta para pessoas diferentes, mas configura as diversas exigências de santidade que Cristo dirige a todos aqueles que queiram ser seus discípulos”6.
O conjunto de todas as Bem-aventuranças traça, pois, um único ideal: o da santidade. Ao escutarmos hoje novamente, em toda a sua radicalidade, essas palavras do Senhor, reavivamos em nós esse ideal como eixo de toda a nossa vida. Porque “Jesus Cristo Nosso Senhor pregou a boa nova a todos, sem distinção alguma. Uma só panela e um só alimento: O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que me enviou e consumar a sua obra (Jo 4, 34). Chama cada um à santidade e a cada um pede amor: a jovens e velhos, a solteiros e casados, a sãos e enfermos, a cultos e ignorantes; trabalhem onde trabalharem, estejam onde estiverem”7.
Sejam quais forem as circunstâncias por que atravessemos na vida, temos que sentir-nos convidados a viver em plenitude a vida cristã. Não pode haver desculpas, não podemos dizer a Deus: “Esperai, Senhor, que se solucione este problema, que me recupere desta doença, que deixe de ser caluniado ou perseguido..., e então começarei de verdade a buscar a santidade”. Seria um triste engano não aproveitarmos precisamente essas circunstâncias duras para nos unirmos mais a Deus.
II. EMPREGAR OS MEIOS OPORTUNOS para evitar a dor, a doença, a pobreza, a injustiça, não desagrada a Deus. Mas as Bem-aventuranças ensinam que o verdadeiro êxito da nossa vida está em amarmos e cumprirmos a vontade de Deus a nosso respeito.
Mostram-nos, ao mesmo tempo, o único caminho capaz de levar o homem a possuir a plena dignidade que condiz com a sua condição de pessoa. Numa época em que tantas coisas inclinam ao aviltamento e à degradação pessoal, as Bem-aventuranças são um convite à rectidão e à dignidade de vida8. Pelo contrário, tentar a todo o custo aliviar o peso da tribulação – como se se tratasse de um mal absoluto –, ou buscar o êxito humano como um fim em si mesmo, são caminhos que o Senhor não pode abençoar e que não conduzem à felicidade.
“Bem-aventurado” significa “feliz”, “ditoso”, e em cada uma das Bem-aventuranças “Jesus começa por prometer a felicidade e por indicar os meios para consegui-la. Por que será que começa por falar da felicidade? Porque em todos os homens há uma tendência irresistível para serem felizes; esse é o fim que têm em vista em todos os seus actos; mas muitas vezes buscam a felicidade no lugar em que ela não se encontra, em que só acharão tristeza”9.
Buscai o Senhor, vós todos, humildes da terra, que observais a sua lei [...]. Deixarei subsistir no meio de ti um povo humilde e modesto, que porá a sua confiança no nome do Senhor, é o que se lê na primeira Leitura da Missa10.
O espírito de pobreza, a fome de justiça, a misericórdia, a limpeza de coração, o suportar injúrias por causa do Evangelho são aspectos de uma única atitude da alma: o abandono em Deus, a confiança absoluta e incondicional no Senhor. É a atitude de quem não se contenta com os bens e consolos das coisas deste mundo, antes põe a sua esperança definitiva em outros bens que não esses, sempre pobres e pequenos para uma capacidade tão grande como a do coração humano.
Bem-aventurados os pobres em espírito... E no Magnificat da Virgem Maria ouvimos: Cumulou de bens os famintos e despediu de mãos vazias os ricos11. Quantos não se transformam em homens vazios porque se agarram satisfeitos ao que têm! O Senhor convida-nos a não nos contentarmos com a felicidade que nos possam dar uns bens passageiros, e anima-nos a desejar aqueles que Ele preparou para nós.
III. JESUS DIZ aos que o seguem – naquele tempo e agora – que não será obstáculo para serem felizes que os homens vos insultem, vos persigam e vos caluniem de qualquer modo por minha causa. Estai alegres e contentes porque grande será a vossa recompensa no céu12.
Assim como nenhuma coisa da terra nos pode proporcionar a felicidade que todos procuramos, assim nada nos pode tirá-la se estivermos unidos a Deus. A nossa felicidade e a nossa plenitude procedem de Deus. “Ó vós que sentis mais pesadamente o peso da cruz! Vós que sois pobres e desamparados, que chorais, que sois perseguidos por amor à justiça, que sois esquecidos, vós os sofredores desconhecidos, tende ânimo; sois os preferidos do Reino de Deus, do Reino da esperança, da bondade e da vida; sois irmãos de Cristo paciente e com Ele, se quiserdes, salvareis o mundo”13. Peçamos ao Senhor que transforme as nossas almas, operando uma mudança radical nos nossos critérios sobre a felicidade e a infelicidade.
Seremos necessariamente felizes se estivermos abertos aos caminhos de Deus em nossas vidas. E isto ainda que haja quem pareça alcançar todos os bens que se podem conseguir nesta vida curta. “O rico não se deve ter por felizardo somente pelas suas riquezas – diz São Basílio –; nem o poderoso pela sua autoridade e dignidade; nem o forte pela saúde do seu corpo; nem o sábio pela sua grande eloquência. Todas estas coisas são instrumentos da virtude para os que as usam rectamente; mas elas, em si mesmas, não contêm a felicidade”14.
Quando os homens, para encontrarem a felicidade, experimentam caminhos diferentes do da vontade de Deus, diferentes daquele que o Mestre nos traçou, no fim só encontram solidão e tristeza. Longe do Senhor, só se colhem frutos amargos e, de uma forma ou de outra, acaba-se como o filho pródigo enquanto esteve longe da casa paterna: comendo bolotas e cuidando de porcos15.
São felizes aqueles que seguem o Senhor, aqueles que lhe pedem e fomentam dentro de si o desejo de santidade. Em Cristo estão já presentes todos os bens que constituem a felicidade. “«Laetetur cor quaerentium Dominum» – Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor. – Luz, para que investigues os motivos da tua tristeza”16.
Quando nos falta alegria, não será porque, nesses momentos, não procuramos a Deus de verdade, no trabalho, naqueles que nos rodeiam, nas dificuldades? Não será, talvez, porque ainda não estamos inteiramente desprendidos? Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor!
(1) Mt 5, 1-2; (2) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, nota a Mt 5, 2; (3) Pérez de Urbel, Vida de Cristo, Quadrante, São Paulo, 1967, pág. 157; (4) ib., pág. 159; (5) Lc 6, 24-26; (6) Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, cit. nota a Mt 5, 2; (7) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 294; (8) cfr. J. Orlandis, Las ocho Bienaventuranzas, EUNSA, Pamplona, 1982, pág. 30; (9) R. Garrigou-Lagrange,Las tres edades de la vida interior, vol. I, pág. 188; (10) Sof 2, 3; 3, 12-13; (11) Lc 1, 53; (12) Mt 5, 11-12; (13) Conc. Vat. II, Mensagem à humanidade. Aos pobres, aos doentes, a todos os que sofrem, 6; (14) cfr. São Basílio, Homilia sobre a inveja, Rialp, Madrid, 1964, pág. 81; (15) cfr. Lc 15, 11 e segs.; (16) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 666.


(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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