Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

O DEPÓSITO DA FÉ
– Fidelidade sem concessões à doutrina revelada. O diálogo ecuménico deve basear-se no sincero amor à verdade divina.
– Expor a doutrina com clareza.
 Veritatem facientes in caritate, proclamar a verdade com caridade, sempre com compreensão para com as pessoas.


I. O ESPÍRITO SANTO impele todos os cristãos a realizarem múltiplos esforços para que se alcance a plenitude da unidade desejada por Cristo1; é Ele quem promove os desejos de diálogo ecuménico. Mas este diálogo, para que tenha razão de ser, deve tender para a verdade e fundamentar-se nela. Não pode consistir, portanto, num simples intercâmbio de opiniões, nem num mútuo acordo sobre a visão particular que cada um tenha dos problemas que se apresentam e das suas possíveis soluções. Pelo contrário, deve expressar com clareza e nitidez as verdades que Cristo deixou em depósito ao Magistério da Igreja, as únicas que podem salvar; deve manifestar o conteúdo e o significado dos dogmas e, ao mesmo tempo, fomentar nas almas um maior desejo de seguir o Senhor de perto, isto é, a ânsia de santidade pessoal.
A verdade do cristão é salvadora precisamente porque não resulta de profundas reflexões humanas, mas é fruto da revelação de Jesus Cristo, confiada aos Apóstolos e aos seus sucessores, o Papa e os bispos, e transmitida pela Igreja como canal divino, com a assistência constante do Espírito Santo. Cada geração recebe o depósito da fé, o conjunto de verdades reveladas por Cristo, e transmite-o íntegro à seguinte, e assim até o fim dos tempos.
Guarda o depósito que te foi confiado2, escrevia São Paulo a Timóteo. E São Vicente de Lerins comenta: “O que é o depósito? É aquilo em que creste, não o que encontraste; o que recebeste, não o que pensaste; algo que procede, não do engenho pessoal, mas da doutrina; não fruto de um roubo privado, mas da tradição pública. É uma coisa que chegou até ti, que por ti não foi inventada; algo de que não és autor, mas guardião; não criador, mas conservador; não condutor, mas conduzido. Guarda o depósito: conserva limpo e inviolado o talento da fé católica. Aquilo em que creste, isso mesmo permaneça em ti, isso mesmo entrega-o aos outros. Recebeste ouro, devolve ouro; não substituas uma coisa por outra, não ponhas chumbo em lugar de ouro, não mistures nada fraudulentamente. Não quero aparência de ouro, mas ouro puro”3.
O diálogo ecuménico não consiste em inventar novas verdades, nem em alcançar um pensamento concorde, um conjunto de doutrinas aceito por todos, depois de cada um ter cedido um pouco. A doutrina revelada não permite composições, porque é de Cristo, e é a única que salva. O desejo de união com todos e a caridade não podem levar-nos – deixaria de ser caridade – “a amortecer a fé, a tirar-lhe as arestas que a definem, a dulcificá-la até convertê-la, como pretendem alguns, em algo de amorfo que não tem a força e o poder de Deus”4.
O desejo de diálogo com os irmãos separados, e com todos aqueles que dentro da Igreja se encontram longe de Cristo, deve levar-nos, pois, a meditar com frequência no empenho com que nos esforçamos por melhorar a nossa formação pessoal, o conhecimento adequado da verdade revelada. Agora, nestes minutos de oração pensemos como é que aproveitamos esses meios que temos ao nosso alcance para uma formação intensa e constante: em particular, a leitura espiritual e o estudo metódico da doutrina cristã.
II. A BOA NOVA que a Igreja proclama é precisamente fonte da salvação porque é a mesma verdade pregada por Cristo. “Consciente disso, Paulo quer confrontar a doutrina que anuncia com a dos outros Apóstolos, para estar certo da autenticidade da sua pregação (Gal 2, 10); e durante toda a sua vida, nunca deixou de recomendar a fidelidade aos ensinamentos recebidos, porque ninguém pode estabelecer outro fundamento senão aquele que já foi estabelecido, que é Jesus Cristo (1 Cor 3, 11)”5.
A verdade que recebemos do Senhor é una, imutável, integramente conservada nos começos e através dos séculos, e nunca será lícito relativizá-la e aceitar dela somente aquilo que pareça conveniente, pois “qualquer atentado à unidade da fé é um atentado contra o próprio Cristo”6. São Paulo está tão profundamente convencido desta verdade que não cessa de censurar nas suas Epístolas as pequenas facções que iam aparecendo naquela primeira época. Trago-vos à memória, irmãos, o Evangelho que vos tenho pregado, que recebestes, no qual vos mantendes firmes e pelo qual sois salvos [...]. Pois transmiti-vos em primeiro lugar aquilo que eu mesmo recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; e que apareceu a Cefas e depois aos doze. Posteriormente, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais muitos ainda vivem e alguns morreram7.
O Apóstolo anuncia a esses primeiros cristãos que a doutrina que devem crer não é uma teoria sua, pessoal, nem de nenhum outro, mas a doutrina comum dos Doze, daqueles que foram testemunhas da vida, morte e ressurreição de Cristo, de quem por sua vez a receberam. O conteúdo da fé – nos primeiros tempos e hoje – encontra-se resumido no Credo, que tem a sua origem nos ensinamentos de Jesus, transmitidos pelos Apóstolos com a assistência constante do Espírito Santo. Este conteúdo não é uma teoria abstracta acerca de Deus, mas a verdade salvadora revelada pelo Senhor, que tem umas consequências práticas e reais no nosso modo de ser, de pensar, de trabalhar, de agir... Por não resultar de um convénio humano nem ser uma doutrina inventada pelos homens, “é absolutamente necessário expor com clareza toda a doutrina. Nada é tão alheio ao ecumenismo – ensina o Concílio Vaticano II – como aquele falso irenismo que desvirtua a pureza da doutrina católica e obscurece o seu sentido genuíno”8.
O verdadeiro objectivo do diálogo ecuménico, bem como de todo o diálogo apostólico, reside, pois, em procurar a comunhão mais perfeita com a verdade salvadora de Cristo. O progresso no conhecimento e na aceitação dessa verdade necessita da contínua assistência do Espírito Santo, a quem pedimos luz nestes dias, e de estudo e reflexão para podermos entender e explicar cada vez de modo mais claro tudo aquilo que Jesus Cristo nos revelou, e que se encontra guardado como um tesouro no seio da Igreja Católica. Só então é que podemos compreender – diz Paulo VI – por que a Igreja, “ontem e hoje, dá tanta importância à rigorosa conservação da autêntica revelação, por que a considera um tesouro inviolável e tem uma consciência tão severa do seu dever fundamental de defender e transmitir em termos inequívocos a doutrina da fé. A ortodoxia é a sua primeira preocupação; o magistério pastoral, a sua função primária e providencial [...]; e o lema do Apóstolo Paulo: Depositum custodi (1 Tim 6, 20; 2 Tim 1, 14), constitui para ela um compromisso tal, que seria uma traição violá-lo.
“A Igreja, mestra, não inventa a sua doutrina; ela é testemunha, guardiã, intérprete, meio; e naquilo que se refere às verdades próprias da mensagem cristã, pode-se dizer que é conservadora, intransigente; e a quem lhe pede que torne a sua fé mais fácil, mais de acordo com os gostos da cambiante mentalidade dos tempos, responde-lhe com os Apóstolos: Non possumus, não podemos (Act 4, 20)”9. Este ensinamento também deve servir de critério na acção apostólica com aqueles católicos que quereriam adaptar a doutrina, às vezes severa, a uma situação particular em que está ausente o espírito de sacrifício e que, portanto, é incompatível com o seguimento do Senhor.
III. SÃO PAULO RECORDAVA aos primeiros cristãos de Éfeso que deviam proclamar a verdade com caridade: veritatem facientes in caritate10, e é isso o que nós devemos fazer: com aqueles que já estão perto da plena comunhão na fé e com os que possuem apenas um vago sentimento religioso.
Sem ceder na doutrina, devemos ser compreensivos, cordiais. E mais do que isso: se por qualquer circunstância nos encontramos num ambiente ou devemos estar com alguém que nos trata com frieza, seguiremos o sábio conselho de São João da Cruz: “Não pense em outra coisa – exortava o Santo a uma pessoa que lhe pedia luz no meio das suas tribulações e dificuldades – senão que Deus ordena todas as coisas; e onde não há amor, ponha amor e tirará amor”11. Nas pequenas e grandes circunstâncias da vida, teremos abundantes ocasiões de pôr este conselho em prática. E veremos muitas vezes como, quase sem o percebermos, nos foi possível mudar esse ambiente hostil ou indiferente.
A verdade deve ser apresentada integralmente, sem falsas composições, mas de maneira amável; nunca pode ser uma verdade azeda ou implicante, nem imposta à força ou com violência. Todas as pessoas têm o direito de ser tratadas com respeito, de que se aprecie o que sempre há de positivo nas suas ideias ou na sua conduta, por mais que estejam erradas ou que lhes façamos uma crítica legítima. Não devemos julgar ninguém, e muito menos condenar. A mesma caridade que nos anima a manter-nos firmes na fé é a que nos leva a querer bem às pessoas, a compreender, a desculpar, a deixar agir a graça de Deus, que não força nem tira a liberdade das almas.
A compreensão leva-nos a querer saciar a maior necessidade que o coração humano experimenta: a ânsia de verdade e de felicidade, que Deus imprimiu em cada criatura. As circunstâncias em que cada qual se encontra são diferentes, como também o grau de verdade que se alcançou; e para que todos cheguem à plenitude da fé, o nosso afecto e a nossa amizade podem ser a ponte de que Deus muitas vezes se serve para penetrar mais profundamente nessas almas.
Nossa Senhora, se lhe pedirmos que nos ajude, há de ensinar-nos a tratar a cada um como convém: com infinito carinho e respeito pela pessoa, e ao mesmo tempo com imenso amor pela verdade, com um amor que não nos levará, por falsa compreensão, a ceder na doutrina.
(1) Cfr. Conc. Vat. II, Decr. Unitatis redintegratio, 4; (2) 1 Tim 6, 20; (3) São Vicente de Lerins, Commonitorio, 22; (4) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 456; (5) João Paulo II, Homilia, 25-I-1987; (6) ib.; (7) 1 Cor 15, 1-6; (8) Conc. Vat. II, op. cit., 11; (9) Paulo VI, Audiência geral, 19-I-1972; (10) Ef 4, 15; (11) São João da Cruz, À Madre Maria da Encarnação, 6-VII-1591.



(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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