Assembleia de Fátima lembra crise e deixa apelos em favor da liberdade de ensino
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, manifestou esta Segunda-feira a sua “perplexidade” pela “falta de verdade nos centros de decisão da gestão pública”.
“A verdade é um imperativo colocado a todos, é um acto de honestidade, sobretudo ao nível dos centros de decisão dos diversos cargos políticos, económicos, sociais e culturais”, afirmou o prelado.
Na abertura da assembleia plenária da CEP, que decorre em Fátima de 8 a 11 de Novembro, o arcebispo de Braga lembrou os actuais “tempos de crise” e as “duras medidas de austeridade”.
“Apelamos às instâncias governativas para que as classes mais desfavorecidas sejam menos penalizadas e mais ajudadas”, declarou.
D. Jorge Ortiga deixou claro que não é possível “exigir sacrifícios às pessoas” sem “o testemunho nem os exemplos das lideranças”.
Nesse contexto, apontou o dedo à “ausência de vontade em solucionar os desafios actuais” e à “ânsia obsessiva do lucro que conduz à desumanização da vida”.
Para este responsável, a situação é fruto de “querelas pessoais e de jogos político-partidários pouco transparentes, que aprisionam os líderes aos interesses instalados nas estruturas público-privadas”.
“As novas gerações não têm expectativas em relação ao futuro, quer pela falta de trabalho, quer por falta de horizontes para a vida”, lamentou.
O presidente da CEP saiu ainda em defesa do “fundamental direito da liberdade de ensino”, considerando “ser imperioso respeitar o direito que têm os pais de escolher para seus filhos a Escola que julgarem melhor”.
“Todas as possíveis tentativas de estatização, que pretendam conquistar o terreno do ensino particular e cooperativo, nomeadamente à Igreja, violam este princípio fundamental de uma sociedade livre e democrática”, atirou.
A intervenção acontece depois de o Conselho de Ministros do último dia 4 de Novembro ter alterado o Decreto-Lei que regula os apoios do Estado ao ensino particular e cooperativo, abrindo a possibilidade de renegociação dos contratos entre o Ministério da Educação e as escolas particulares.
O decreto foi apresentado em conferência de imprensa pelo secretário de Estado da Educação, João Mata, o qual adiantou que o modelo de financiamento “será por turma, que tem naturalmente em consideração o número de alunos”.
Para D. Jorge Ortiga, “estando nós em tempo de restrições económicas, seria um desperdício e esbanjamento imperdoáveis desproteger as Escolas particulares que poupam ao Estado verbas avultadíssimas”.
“Confiamos firmemente que as conversações em curso com o Ministério da Educação cheguem a bom porto, para bem dos alunos, de seus pais e do País”, acrescentou.
Num longo discurso, o arcebispo de Braga criticou o surgimento de “novas formas de liberalização e de imposição forçada de uma cultura da morte sem precedentes e minimalista”, numa referência indirecta ao aborto e eutanásia.
O prelado frisou que “cada vez mais, os centros sociais e lares se enchem de pessoas que já não têm lugar à mesa das suas famílias, tanto por razões de ordem laboral e económica, como pela banalização dos laços familiares”.
Para o presidente da CEP, “o Estado e o poder político não são os únicos responsáveis no governo da nação”, pelo que são necessários “esforços de concertação e de mobilização na procura de um modelo social que perdure e dê esperança à geração presente e futura”.
“O sentido de responsabilidade pública e de participação na vida democrática exigirá líderes com propostas novas e sérias que visem promover a equidade e a coesão da sociedade portuguesa”, prosseguiu.
Os trabalhos da CEP vão passar em análise, nos próximos dias, diversas iniciativas de acção sócio-caritativa e o processo “Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal”.
(Fonte: site Agência Ecclesia)
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