S. João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homilias sobre a Conversão, 2 (a partir da trad. da col. Pères dans la Foi, 8, DDB 1978, p. 46)
«Tem piedade de mim, que sou pecador»
Um fariseu e um publicano subiram até ao Templo para a oração. O fariseu começou por enunciar as suas qualidades, e proclamava: «Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos.» Miserável, que te atreves a julgar toda a terra! Porque espezinhas o teu próximo? E ainda sentes necessidade de condenar este publicano! [...] A terra não te foi suficiente? Acusaste todos os homens, sem excepção: «por não ser como o resto dos homens [...] nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo». Infeliz! Quanta presunção nestas palavras!
Quanto ao publicano, que ouviu muito bem estas afirmações, podia ter retorquido: «Quem és tu para te atreveres a proferir tais murmurações sobre mim? Donde me conheces? Nunca viveste no meu meio, nem pertences ao grupo dos meus íntimos. Porquê tamanho orgulho? Aliás, quem pode comprovar as tuas boas acções? Porque fazes dessa maneira o teu próprio elogio, e quem te incita a gloriares-te desse modo?» Mas não fez nada disso ― muito pelo contrário! Prostrou-se por terra e disse: «Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.» Porque fez prova de humildade, saiu justificado.
O fariseu abandonou o Templo privado de qualquer absolvição, enquanto o publicano se foi embora com o coração renovado pela justiça reencontrada. [...] E, no entanto, não havia nele ponta de humildade, no sentido em que usamos este termo quando algum nobre desce do seu estado. No caso do publicano, portanto, não era de humildade que se tratava, mas de simples verdade, porque ele dizia a verdade.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
Sem comentários:
Enviar um comentário